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terça-feira, 21 de abril de 2015

Quando a Natureza decidiu se livrar de mim...





            Já lhes contei como é viver no meu Paraíso particular não é? É lindo! Eu amo a Natureza, as árvores, os pássaros, as plantas, tudo é maravilhoso! Eu amo poder olhar pela janela antes de dormir de madrugada e ver neblina descendo na pastagem: branquinha, densa, fria e tão bonita . Mas acho que a Natureza não me vê com tão bons olhos quanto eu a ela. Costumo ter esse problema de relacionamentos não correspondidos...


            Quando você mora no mato existem algumas novas funções que aparecem na sua vida. Por exemplo, você tem que cuidar do quintal, tem que cortar a grama, tem que arrancar as ervas daninhas, e tem que varrer as folhas.


            Sabe aquela imagem linda das arvores amarelinhas no outono? As folhas secas caindo pelo chão e se espalhando ao sabor do vento. A beleza tomando conta de todo o local com aquela luz outonal que é filtrada pelas folhas que restaram nas árvores? Lindo né? Eu também achava. Até eu descobrir que as folhas, pasmem, elas não se varrem sozinhas! E sim, elas caem! E a quantidade de folhas que tem no chão daria pra fazer o dobro de árvores que você tem no quintal. É como os gatos, a quantidade de pêlos que um gato perde por dia, daria para fazer mais 2 gatos!


            As folhas se acumulam, abafam a grama e matam tudo! E você tem que tomar uma providencia! Você vai deixar que seu jardim vire um cemitério de plantas? Jamais! Pegue seu ancinho e que se iniciem os trabalhos!


            Era assim que eu costumava passar as manhãs e os finais de semana. É bem relaxante varrer as folhas. Cansativo quando a área é muito grande, mas como eu adoro estar ao ar livre, eu simplesmente não ligava. Preferia passar o dia todo no quintal tirando folhas, plantando coisinhas, ou mesmo sentada na no chão olhando a paisagem do que entrar e lavar meia dúzia de pratos.


            Nessa semana em particular o outono estava a pleno vapor! É a minha estação favorita! A luz é diferente no outono. O clima é agradável por que não está quente e nem frio demais. A paisagem fica muito mais bonita.




            Eu estava desempregada naquele tempo e passava o dia em casa cuidando das coisas, descansando e sim, varrendo as folhas. Já tinha varrido grande parte do quintal e juntado montes enormes de folhas secas. Existe um lado do quintal em casa que chamamos de Bosque das Fadas, é tão gostosa a energia la que parece que você está em outro mundo. Só faltava o nosso Bosque para limpar.


            Estava eu toda paramentada com minhas luvas de jardinagem, minha bota de borracha e meu macacão ridículo que me deixa parecendo um frentista gordo varrendo minhas folhas no fim da tarde. Ah eu estava acabando!


            Nessa semana eu fiz uma descoberta muito interessante sobre minha estação favorita. O outono não é apenas a época da troca das folhas e do descanso da natureza que se prepara para o inverno. Não é apenas a troca da folhagem das árvores. O que ninguém te conta é que os galhos também caem e eles caem em quantidades tão absurdas quanto as folhas.



            Estava eu terminando de juntar as folhas quando de repente ouço um estalo muito alto e o pavor tomou conta de todo o meu corpo. Meu Deus! Mas que raios está acontecendo? Olho para cima e não consigo enxergar nada! As copas das arvores se entrelaçam e você não consegue observar o céu. De onde vem esse barulho? Olhei para todos os lados, não vi nada, tentei correr, mas correr para onde? Onde quer que eu fosse haviam árvores, e onde há árvores, os galhos caem. Num momento de lucidez resolvi me abaixar e proteger a cabeça.



            E num raio de 2 mil metros quadrados com dezenas de árvores, o desgraçado do galho de quase 2 metros de comprimento desprendeu do eucalipto de mais de 20 metros de altura e caiu onde? Em cima de mim! O maldito galho caiu no meio das minhas costas. Que DOR!!!


            Calma, respira, respira, respira! Quebrou alguma coisa? Você consegue andar? Ta tudo funcionando? Ótimo! Restrinja-se ao anonimato e volte para dentro de casa. Eu sobrevivi! Mas as folhas teriam que esperar!


            Com muita dor nas costas eu resolvi que não iria varrer as folhas nos próximos dias, mas aquele assunto ainda não estava resolvido. Passado um curto período, voltei aos meus afazeres normais e fui terminar de uma vez por todas com aquelas folhas. E eu varri! Como eu varri!


            Enquanto eu cuidava dos meus problemas, Pernilongo corria feliz pelo quintal e nadava na represa. De repente uma família de capivaras resolveu nadar também e Pernilongo, muito ambiciosa, decidiu que a capivara macho seria sua próxima refeição.


É engraçado ver os planos que ela faz para pegar as capivaras, é como assistir ao Papa Léguas e o Coiote! E la se foi Pernilongo caçar a capivara. Geralmente ela corria atrás delas, as capivaras sumiam na água, e ela se contentava com isso. Mas não naquele dia. Naquele dia Pernilongo estava com sangue nos olhos e resolveu que iria ter aquela capivara.


Pois ela atacou, entrou na água e foi nadando até onde a capivara estava, latindo e desaforando, mas o contra ataque foi forte. Dona capivara pulou na água e começou a perseguir Pernilongo dentro da água e a única coisa que a Lili podia fazer era nadar o mais rápido que pudesse.


Eu gritei com ela, falei para sair dali, mas ela simplesmente não obedecia e cada vez que a capivara voltava, ela corria atrás dela de novo. E na última vez, Lili entrou na água, nadou até perto da capivara que deu 2 gritos avisando que não queria assunto, pulou na água, perseguiu Pernilongo até a parte seca e não parou por ali! Começou a correr atrás dela no gramado!


O que eu ia fazer? E se a capivara pegasse Pernilongo? Um bicho de 70kg contra um cachorro de 20? Seria um massacre! Reuni toda a minha coragem, peguei meu ancinho e comecei a gritar e correr pra espantar a capivara abanando os braços e balançando o ancinho, resumindo, uma louca!


Lilith virou em minha direção, veio correndo com a capivara em seu encalço e quando eu gritei:
- Corre Pernilongo!




E ameacei a capivara com todas as imprecações que eu conhecia, dei um passo em falso, travei a coluna e cai no meio do mato com cachorro de um lado e capivara de outro. Por sorte o ancinho caiu da minha mãe assustando a capivara que nos deu as costas e eu fiquei la totalmente paralisada com a filha da mãe de Pernilongo lambendo minha cara com aquele cheiro de vala comum.



Naquela semana eu ganhei 2 presentes: uma importante lição: você pode amar a Natureza mas ela não ama você. E o segundo foi um presente dado pela minha avó que ao ouvir meu terrível relato me trouxe uma bolsinha de crochê que ela mesma fez para eu que pudesse pendurar meu celular no pescoço pra não correr o risco de morrer sozinha no mato sem conseguir nem ligar pro SAMU da próxima vez que a Natureza resolvesse me atacar (obrigada meu Rato).

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