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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Lilith, o Pernilongo





            Sim, finalmente estou vivendo no Paraíso. Sabe quando você tem um sonho tão vívido e te acompanha desde a infância que quando se realiza você tem a nítida certeza de que a sua vida vai ser maravilhosa a partir daquele dia? Pois sim, isso aconteceu comigo! Após 12 anos morando num apartamento horrível, finalmente conseguimos nos mudar para a casa dos nossos sonhos. Não apenas uma casa, a casa com a qual eu sonhei desde criança, no meio do mato, com bastante água, árvores, animais e até com a minha “torre” redonda. Sim eu estava vivendo meu sonho.


            A felicidade invade a sua vida tão de repente que você não sabe o que fazer com aquele sentimento! É tão recompensador quando as coisas começam a dar certo para você que a alegria transborda no olhar e vê a beleza em tudo à sua volta. Eu estava assim.


            É tão gostoso poder acordar cedo ao som dos pássaros cantando! Poder olhar pela janela e só ver céu, sol, verde e beleza! Os pequenos sons do bosque com as borboletas voando, o vento agitando as copas das árvores, os saguizinhos chamando uns aos outros com aqueles gritinhos agudos, os esquilos procurando castanhas e frutinhas, os patinhos nadando logo cedo na represa dentro do seu quintal! E as capivaras? Lindas, imensas e tão pacíficas deitadas ao sol da manhã. Realmente bucólico.




            Mas como se diz, Deus dá, Deus tira... a vida não pode ser apenas sonhos e pirulitos, por que junto com o doce, vem o amargo e no dia em que coloquei meus pés naquela casa, uma moradora mais que inesperada se mudou junto conosco, Lilith, também conhecida como Pernilongo.


            Todo mundo conhece os pernilongos. Eles são chatos, inconvenientes e estão em toda parte ao mesmo tempo! Assim é nossa Lili. Lilith é uma vira-lata que foi adotada pela minha irmã que caiu no velho golpe do filhote na chuva.


            Vou lhes contar o supremo mandamento do vira-lata:
 I - Quando chover, correrás atrás do primeiro idiota que cruzar o seu caminho fazendo a cara mais doce e encantadora que conseguir e tremendo de frio e se ele te pegar no colo, coloque a cabeça no ombro dele. Não falha nunca!




Eis que o primeiro idiota veio a ser minha irmã (Sorry Pilan) e foi assim que, alguns meses depois, dona Pernilongo entrou em nossas vidas.


            Lilith sempre foi uma cachorra muito ativa. É de se esperar que os filhotes sejam arteiros. Ela foi adotada com cerca de 3 meses de idade e era bem feiosinha. Aos poucos foi crescendo, ganhando corpo, ganhando pernas (cada vez mais compridas parecendo um pernilongo) e foi ficando grande demais para dividir o espaço na kit net com minha irmã e seus dois gatos.


            E os gatos? Imagina que você é o ser mais limpo, mais higiênico, mais fresco e esnobe de todo o reino animal? Afinal você pode, por que você é um gato e os gatos são lindos. Agora pensa que você vivia em total comunhão com a boa vida, só comendo, dormindo, ganhando carinho e ronronando e não mais que de repente, uma cachorra sem vergonha tem a pachorra de cagar na cama da sua mãe, te pegar pelo pescoço como se você fosse um boneco de pano e te esfregar na merda?




Oi? É isso mesmo? Sim! Dona Lilith pegava o gato e esfregava ele na merda. Minha irmã trabalhava e estudava o dia inteiro, tinha que chegar em casa 11 horas da noite, reconstruir a casa e dar banho no gato. E foi assim que por motivos de força maior, dona Pernilongo foi convidada a dividir nosso paraíso conosco para que minha irmã e seus gatos pudessem voltar a viver na paz de Deus.


Nunca vou me esquecer da cena. Fomos à rodoviária do Tiete buscar minha irmã que estava vindo passar o aniversario em casa e aquele seria o primeiro dia em que dormiríamos na casa nova e eis que avisto minha irmã e uma coisinha tão esquisita que só tinha pernas e alegria. Naquele dia já coloquei o apelido: Pernilongo.


Deixe me contar uma coisa sobre nosso Pernilongo... Lilith é uma cachorra que sabe aproveitar toda e qualquer oportunidade que a vida tem a lhe oferecer. Acho que devia ser tida como um exemplo de oportunista. Vamos ver o porquê disso...


Pernilongo em sua essência é uma caçadora. Você se muda para o mato para conviver com os pequenos animaizinhos do bosque, os macaquinhos, esquilinhos e da até gritinhos quando vê um pequenininho passando com uma frutinha, chama seus parentes, tira foto, é uma alegria sem fim. Ai você acorda feliz da vida, vai para o quintal pra observar a natureza logo cedo, olha pra baixo e eis que Pernilongo está comendo seu amigo, o Esquilo...




Que bosta hein? Bom, é o instinto do animal... você deixa estar e vai fazer outra coisa pra não se sentir mal pelo esquilo. Os dias se passam sem maiores acontecimentos e então, você sai para trabalhar, volta para casa e vê Pernilongo com um fêmur cheio de carne que você não sabe se é de cavalo, de boi, de gente, de qualquer coisa que vivia antes de se encontrar com Pernilongo. E o desespero? Ela não me deixou ver o que era! E se ela tivesse achado um corpo? Acalme-se durma e veja pela manhã.


Acordo de manhã me sentindo dentro do Massacre da Serra Elétrica com medo do que vou encontrar no quintal. Pernilongo vem toda feliz me receber e eu encontro: 1 femur, 2 úmeros, um coxal, 2 escapulas, um rádio, algumas costelas e uma cabeça de cachorro. OMFG temos uma assassina entre nós! Lilith passou a noite inteira se exercitando e trouxe uma vaca inteira para o quintal! As perguntas que não me deixam em paz são:

1.       Onde raios ela encontrou uma vaca?
2.      Ela matou a vaca?
3.      Por que diabos um cachorro precisa de tantos ossos pra ser feliz?
4.      E por que, pelo amor de Deus, a desgraçada estava roendo um crânio de cachorro???
5.      Ninguem contou pra ela que cães não são canibais?




Aos poucos fomos vendo a fauna silvestre desaparecer à nossa volta. Esquilos, macacos, ratões do banhado, patinhos, frangos d’agua, minhas tartarugas, tudo... mas o senso de oportunidade supremo de Pernilongo se apresentou há pouco tempo...


Dentre todas as atividades de Pernilongo, o nado é a que ela mais pratica com uma única finalidade: a caça. Ela toma conta de um território de mais de 2 mil metros quadrados na represa como se fosse tudo  dela e ninguém pode andar por lá sem que ela anuncie.




Pois bem, nesse dia fatídico, os latidos estavam ensurdecedores e fui procurar o que estava acontecendo. A cena era a seguinte: em uma das ilhotas da represa, 2 cachorros caçaram um ratão do banhado e o estavam comendo, Pernilongo, como é a proprietária da Guarapiranga, foi reivindicar a sua parte e tomou uma surra dos seus semelhantes. Mas vocês acham que ela ia deixar barato? Jamais! Pois onde há carniça, há urubu e onde há uma oportunidade, dona Lilith aproveita! Pois o urubu veio se deleitar com a carne do ratão do banhado e foi surpreendido ao ser capturado por alguém mais oportunista do que ele: Pernilongo.




Se isso não é senso de oportunidade, eu não sei mais o que é. Não posso comer o ratão do banhado? Beleza! Vou comendo esse urubu aqui até os cachorros cansarem! E ela comeu! E depois buscou os restos do ratão e comeu também!
Eu ainda não cheguei a uma conclusão sobre o que é viver com dona Lilith, não sei se temos sorte ou Azar na companhia dela. Ela é o cachorro mais sem vergonha que eu já conheci, mas ainda assim nos rende boas risadas.



Um comentário:

  1. Kkkkkkk veja pelo lado bom vc não precisa se preocupar com racao pra ela. Ela se vira kkkkkkk

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