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quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Mulher Imóvel



Todo mundo tem aquele dia em que acorda querendo que o mundo morra para não ter que falar com ninguém. Comigo não é diferente. Eu tive esse dia. Aliás, eu continuo tendo dias como esse há anos! Essa é a história de um dia em particular, no primeiro ano da faculdade.


Minha entrada na faculdade não foi exatamente como eu queria, eu demorei 3 anos para gostar daquele lugar e estou para dizer que o primeiro ano foi como viver no inferno, depois eu não queria sair de lá por nada. Mas enfim, vamos à história. Eu morava com duas colegas de faculdade, uma da pós graduação e outra da minha sala. Me dava muito bem com a mais velha e conversávamos horas e horas na porta do quarto dela quando eu voltava da aula e ia tomar banho.


Esse dia em particular, eu estava azeda. Eu não tinha carro, e Botucatu é uma cidade que tem o transporte público tão desgraçado que a prefeitura incentiva dar carona. Morávamos próximo à Fazenda Lageado e não tem nada no entorno além de uma padaria e as casas. Minha amiga tinha carro e quando precisava ir à algum lugar, ela me dava carona.


Eu costumava voltar para casa todo final de semana pois não suportava ficar muito tempo naquele lugar. Esse final de semana em particular, eu não voltei para casa. Quando você é estudante você não faz compras no mercado, a sua mãe faz compras no mercado e você faz compras na despensa da sua mãe, simples assim. Mas como já estava há duas semanas sem voltar para casa e meu estoque de miojos estava no fim, minha colega me chamou para ir ao mercado e eu juntei toda a educação que me restava dentro do meu mau humor e saí com ela.


Chegamos ao mercado. Eu estava me controlando para ser educada e simpática, mas tudo na vida tem limites. E o limite era uma mulher misteriosa que estava caçoando da minha situação. Ou eu achava que estava.


Pegamos o carrinho, fomos conversando e comprando as coisas. Eu gosto de ir ao mercado, mas quando se está de mau humor até uma ida à Disney é motivo pra te irritar.  Eu não tinha muitas coisas para comprar, fui mais para fazer companhia mesmo. Chegou certo ponto que eu já estava cansada daquela movimentação e resolvi dar uma de prestativa e ir buscando as coisas enquanto ela esperava na fila do açougue.


Com minha lista em mãos, fui pegando as coisas, empilhando da forma como conseguia nos braços pra poder voltar pra casa e não ter que falar com mais ninguém até o fim do mundo. E eis que eu tropecei e todas as coisas caíram no chão. Já não é vergonha suficiente você tropeçar no mercado, você ainda tem que derrubar as coisas. E havia uma mulher. Não apenas uma mulher, havia aquela mulher que me olhava passar por aquele constrangimento e não fazia nada para ajudar.








Eu havia chegado ao meu limite. O dia estava péssimo, eu estava mal humorada, as coisas não davam certo e aquela mulher continuava a me olhar naquela situação e não moveu um dedo para me ajudar. Na realidade, ela não se moveu uma única vez. Aquilo me fez ficar irada, por que eu pedi licença e nem mesmo isso a desgraçada pode fazer por mim. Era só dar um passo para o lado, mas nem isso.


Existem dias que você não deve levantar da cama, dias em que a vida seria muito melhor se você simplesmente não existisse, dias em que a fúria toma conta de você de tal forma que você faz coisas que jamais imaginou que seria capaz. E nesse dia, agachada no chão, de costas para a maldita mulher imóvel eu reuni todas as minhas forças para xingá-la com todas as palavras de baixo calão que eu conhecia.




Levantei-me com meu ar de superioridade pronta para iniciar uma discussão, me sentindo o Liu Kang de vontade de dar uma voadora na cara da maldita. Virei para a desgraçada e o golpe foi tão duro que eu demorei alguns momentos para entender o que estava acontecendo.


Aquela mulher, a vaca que não podia me ajudar, nem tampouco me dar licença, era uma placa. Sim meus amigos, uma PLACA em tamanho real no formato de uma mulher. Para sermos mais específicos, eu estava a ponto de bater na Giovanna Antonelli. O absurdo da situação me pegou de tal forma que meu mau humor simplesmente desapareceu. Eu, na minha ira, estava fazendo planos de discutir com uma placa por que ela não me ajudou a recolher a bagunça que eu mesma havia feito. Parece que a minha vida realmente está aprisionada em uma piada de português.






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