Todo
mundo tem aquele dia em que acorda querendo que o mundo morra para não ter que
falar com ninguém. Comigo não é diferente. Eu tive esse dia. Aliás, eu continuo
tendo dias como esse há anos! Essa é a história de um dia em particular, no
primeiro ano da faculdade.
Minha
entrada na faculdade não foi exatamente como eu queria, eu demorei 3 anos para
gostar daquele lugar e estou para dizer que o primeiro ano foi como viver no
inferno, depois eu não queria sair de lá por nada. Mas enfim, vamos à história.
Eu morava com duas colegas de faculdade, uma da pós graduação e outra da minha
sala. Me dava muito bem com a mais velha e conversávamos horas e horas na porta
do quarto dela quando eu voltava da aula e ia tomar banho.
Esse
dia em particular, eu estava azeda. Eu não tinha carro, e Botucatu é uma cidade
que tem o transporte público tão desgraçado que a prefeitura incentiva dar
carona. Morávamos próximo à Fazenda Lageado e não tem nada no entorno além de
uma padaria e as casas. Minha amiga tinha carro e quando precisava ir à algum
lugar, ela me dava carona.
Eu
costumava voltar para casa todo final de semana pois não suportava ficar muito
tempo naquele lugar. Esse final de semana em particular, eu não voltei para
casa. Quando você é estudante você não faz compras no mercado, a sua mãe faz
compras no mercado e você faz compras na despensa da sua mãe, simples assim.
Mas como já estava há duas semanas sem voltar para casa e meu estoque de miojos
estava no fim, minha colega me chamou para ir ao mercado e eu juntei toda a
educação que me restava dentro do meu mau humor e saí com ela.
Chegamos
ao mercado. Eu estava me controlando para ser educada e simpática, mas tudo na
vida tem limites. E o limite era uma mulher misteriosa que estava caçoando da minha
situação. Ou eu achava que estava.
Pegamos
o carrinho, fomos conversando e comprando as coisas. Eu gosto de ir ao mercado,
mas quando se está de mau humor até uma ida à Disney é motivo pra te irritar. Eu não tinha muitas coisas para comprar, fui
mais para fazer companhia mesmo. Chegou certo ponto que eu já estava cansada
daquela movimentação e resolvi dar uma de prestativa e ir buscando as coisas
enquanto ela esperava na fila do açougue.
Com
minha lista em mãos, fui pegando as coisas, empilhando da forma como conseguia
nos braços pra poder voltar pra casa e não ter que falar com mais ninguém até o
fim do mundo. E eis que eu tropecei e todas as coisas caíram no chão. Já não é
vergonha suficiente você tropeçar no mercado, você ainda tem que derrubar as
coisas. E havia uma mulher. Não apenas uma mulher, havia aquela mulher que me
olhava passar por aquele constrangimento e não fazia nada para ajudar.
Eu
havia chegado ao meu limite. O dia estava péssimo, eu estava mal humorada, as
coisas não davam certo e aquela mulher continuava a me olhar naquela situação e
não moveu um dedo para me ajudar. Na realidade, ela não se moveu uma única vez.
Aquilo me fez ficar irada, por que eu pedi licença e nem mesmo isso a
desgraçada pode fazer por mim. Era só dar um passo para o lado, mas nem isso.
Existem
dias que você não deve levantar da cama, dias em que a vida seria muito melhor
se você simplesmente não existisse, dias em que a fúria toma conta de você de
tal forma que você faz coisas que jamais imaginou que seria capaz. E nesse dia,
agachada no chão, de costas para a maldita mulher imóvel eu reuni todas as
minhas forças para xingá-la com todas as palavras de baixo calão que eu
conhecia.
Levantei-me
com meu ar de superioridade pronta para iniciar uma discussão, me sentindo o
Liu Kang de vontade de dar uma voadora na cara da maldita. Virei para a desgraçada
e o golpe foi tão duro que eu demorei alguns momentos para entender o que
estava acontecendo.
Sensacional! Kkkkkkkk
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