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sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Mudança





            Eu sou conhecida por ser uma pessoa que odeia mudanças, eu mudo, mas odeio. E não me refiro às grandes transformações. Qualquer alteração no meu cronograma durante o dia já me deixa irritada. Não preciso dizer que mudanças de casa me deixam louca de estresse. 


            Durante os 4 primeiros anos da faculdade morei com amigas, mas no último ano me mudei para uma kit net pois meus amigos voltaram para São Paulo para fazer estágio e eu ia continuar em Botucatu fazendo meus estágios lá no primeiro semestre.


            Eis que se iniciou o inferno: a mudança! Poucas coisas são tão desagradáveis quanto ter que empacotar tudo que você tem para desempacotar em outro lugar e reiniciar o trabalho todo de novo. Essa mudança em particular me foi muito penosa, por que eu estava completamente sozinha!


            Quando você vai se mudar, a primeira coisa que faz é pegar caixas para guardar as coisas certo? Eu também! La fui eu buscar caixas no supermercado. As caixas são entidades mágicas que habitam os supermercados apenas na parte da manhã bem cedinho por que com o passar da manhã, o duende das caixas passa e desaparece com todas e ninguém sabe te informar o que aconteceu!


            Pois eu acordei cedíssimo para pegar a primeira hora do mercado e levar minhas caixas para casa. Entrei no mercado Central do Bairro e pedi as caixas, o moço me indicou onde estavam e lá fui eu. E elas existiam mesmo! Muitas! De todos os tamanhos e formatos! Que alegria! A cobiça tomou conta da minha mente e eu peguei a maior quantidade possível de caixas. Sabe por que as caixas são desmontadas para o transporte? Por que além de ocuparem muito espaço, elas voam com o vento... Eu não sabia.




            Saí feliz da vida com minhas caixas empilhadas e me dirigi ao carro quando de repente um vento vindo diretamente do inferno soprou e minhas preciosas caixas voaram por todos os lados. Eu quero dizer todos os lados mesmo! Havias caixas pela calçada toda e no meio da rua. Sabe aquela cena do Chaves quando ele está pegando as latas vazias para vender para o dono da venda e elas começam a cair por todos os lados? Vos apresento A Chaves.
Eu corria para pegar as caixas e elas se espalhavam mais, caiam, rolavam e voavam pelos ares me fazendo parecer a pessoa mais imbecil do mundo, mas por fim, com a ajuda de 2 carregadores que se apiedaram de minha situação, consegui colocar todas no carro.


Fui para casa com minhas belas caixas, feliz por ter terminado pelo menos aquela tarefa. O carro em questão era emprestado por que meu fiel Escort azul estava quebrado, dessa forma a boa alma que era namorado da minha mãe na época havia me emprestado o carro dele para fazer a mudança.


Fui para a casa velha deixar as caixas e depois, fui para a casa nova para fazer faxina antes da mudança. Que beleza, embiquei na garagem para guardar o carro, cai na vala e furei o pneu... Tuuuudo bem, isso acontece! Vamos trocar o pneu! Peguei a chave de roda, coloquei no parafuso e com todas as forças que habitavam o meu ser eu girei, girei, girei subi na chave, pulei, amaldiçoei todos a minha volta e o parafuso não deu nem uma mísera volta. Ok, vamos precisar de um homem!


Fiquei de tocaia na rua esperando um homem passar e para que eu pudesse fingir estar trocando o pneu, e deu certo! Uma boa alma se ofereceu para trocar o pneu!!! Ótimo, um problema a menos! Vamos à faxina.


No geral as coisas estavam em ordem, mesmo porque é difícil haver muuuuita sujeira numa casa fechada e minúscula, mas eu limpei, limpei tudo direitinho, lavei a casa toda, deixei as janelas abertas pra secar bem e fui pra casa velha arrumar as coisas.


À noite voltei para a kit com o carro lotado de caixas. Comecei a descarregar sem problemas, mas quando entrei no banheiro para colocar uma caixa, 4 baratas apareceram ameaçando minha integridade física e mental. Aquilo estava ficando perigoso, então fechei a porta do banheiro correndo e fui pro quarto. Como não sou boba, fui fechar a porta da varanda pra nenhuma barata entrar e eis que aparecem mais 2 baratas que entraram correndo. Pois elas entraram e eu, na mesma velocidade, saí pela porta da frente e fui embora pra casa velha com as minhas caixas.


Recuperada do susto, juntei toda a minha valentia que se resume a nada, liguei para meu amigo para que ele fosse me ajudar a matar as malditas baratas. Fui à casa desse amigo que foi comigo à kit armado de muito Mortein, sapatos e coragem para matar as baratas e descarregar o carro.


Terminado o serviço sujo, deixei meu querido amigo em sua casa e fui para minha casa velha para poder dormir. E eis que... as chaves da casa velha tinham ficado na kit. Voltei à merda da kit net para procurar as chaves e nada.


Liguei para outro amigo para saber se ele poderia me ajudar a procurar, por que às vezes a pessoa está tão cansada que não consegue achar coisas que estão obviamente na sua frente. Pois ele foi me ajudar, procuramos em todos os lugares e nada das chaves... peguei o carro, fomos à casa do meu amigo matador de baratas para ver se ele tinha alguma ferramenta para que eu pudesse arrombar o portão.


Descendo na rua lateral à Cia dos Espetinhos, há uma ruazinha com uma placa de PARE que em 4 anos de faculdade eu nunca me dei ao trabalho de parar. Estava com meu amigo no carro e ao ver que eu estava passando reto o cruzamento, o mesmo me perguntou por que eu não parava naquela placa, pois poderia ser perigoso, falei que nunca vinha ninguém ali e não me preocupei. Chegamos à casa do matador de baratas, peguei um martelo e voltamos para a minha casa velha. Reviramos o carro todo, e eu resolvi que ia arrombar o portão da garagem mesmo para dormir no carro. Estava chovendo e eu já estava parecendo um escovão sujo e molhado. Eu só queria um banho e cama! Utilizei todos os meus argumentos para convencê-lo de que eu dormiria no carro, ele se foi contrariado diante de toda a minha teimosia, entrei no carro e não deu 15 minutos, volta a criatura com uma amiga em comum para que eu fosse dormir na casa dela.




A essa altura do campeonato eu já estava num estado profundo de birra e insatisfação e tudo que me ofereciam, eu não queria. Eu só queria dormir no meu carro e tremer até de manha para poder chamar o chaveiro. Mas acabei indo dormir na casa de nossa amiga, que eu agradeço muito pela hospitalidade. Cheguei lá, tomei um banho e fiquei rolando na cama. Tenho um sério problema em dormir fora de casa, simplesmente por que eu não durmo e as noites se tornam infinitas, mas com o passar do tempo e com o cansaço acumulado, acabei dormindo.




Às 7h tive uma visão reveladora! Peguei meu super automóvel e voltei à kit com a certeza de que encontraria as chaves dentro da gaveta do armário, e voilá!!! As benditas estavam justamente na gaveta! Voltei à casa velha, abri a porta e fui arrumar as coisas. Esperei um horário de gente decente acordar e voltei à casa do meu amigo para devolver o martelo. Fui descendo a rua normalmente e chegando na placa de PARE me veio a nítida imagem de meu amigo me perguntando por que eu não parava na placa e eu parei... e no exato instante que o carro parou, um caminhão gigantesco desceu o cruzamento correndo.


Sabe aquilo que dizem que no momento em que você acha que vai morrer você vê toda a sua vida passar diante dos seus olhos? Então, comigo não foi assim. O susto foi tão grande que meu cu subiu pras costas a única coisa que eu pensava era em não cagar o carro todo. Eu sobrevivi e o carro permaneceu limpo!




Quando minhas pernas pararam de tremer, continuei dirigindo, deixei as ferramentas na casa do meu amigo e voltei para casa velha para terminar de arrumar as coisas.


Morei durante 3 anos e meio naquela casa, e em todo esse tempo o Box do banheiro não fechava, a descarga era dada com uma chave inglesa e a porta da sala, que antes nem existia, não fechava direito e estava com a maçaneta quebrada. Pois quando deixamos a casa tivemos que consertar tudo isso que nunca funcionou. Passei a tarde inteira com o marido de aluguel para ele arrumar tudo e meu dinheiro que nascia em arvores foi indo embora.


Enquanto isso eu ia limpando a casa, as paredes, as janelas, tudo para chamar a inspeção logo depois da mudança. E a mudança? Pensa numa semana que choveu? Pensa num homem que você contrata e que não aparece 2 dias seguidos por causa da chuva? Agora pensa que você alugou um caminhão aberto para fazer a mudança e todas as suas coisas estavam ali, tomando aquela chuva gostosa pra inchar todos os moveis de madeira de ótima qualidade que você adquiriu durante sua vida de estudante. Uma beleza!




Finalmente o caminhão estava cheio! Peguei o carro e fui guiando ate a kit com o caminhão me seguindo. Chegando lá, desci do carro, indiquei a kit e fiquei observando o caminhão estacionar. O motorista teve a brilhante ideia de parar em cima da calçada por que a vala da guia era muito grande e o caminhão ia ficar muito torto. Então ele manobrou, subiu na calçada e no momento em que o caminhão parou em frente a minha porta, a calçada quebrou e a roda dele ficou presa no buraco...




Sim meus amigos, nesse momento eu já conseguia até visualizar o urubu rei sentado em cima da minha cabeça. A zica se abateu sobre a minha vida de tal forma que todos que estavam à minha volta foram afetados por ela.


Contratei um caminhão para mudança e mais um ajudante. Acontece que eu o ajudante veio a ser o filho do dono do caminhão, um menino de 13 anos e o dono do caminhão ficava de cara fechada para mim para eu ajudar o filho dele a carregar as minhas coisas. Ta certo isso? Você paga pelo serviço, tem que fazer o serviço e ainda se sentir mal por fomentar o trabalho infantil?


Pois eu me mudei! Apesar de todas as intempéries, de todos os contratempos, todo o inferno que se estabeleceu em minha vida, eu me mudei! E agora só faltava a casa velha passar na inspeção... tranquilo né?


Quando você aluga uma casa que não foi pintada, consta no contrato que você não precisa pintar a casa não é? Ledo engano... você acredita nisso por que vive no mundo de Alice e as coisas são lindas.




Realmente eu não tive que pintar a casa, eu simplesmente tive que limpar todas as paredes, eu disse tooooooooooodas, por que não poderia haver uma patinha sequer nelas e eu tinha um gato e um cachorro demoníacos que só faltavam andar no teto...




E lá fui eu lavar quintal, cortar o mato, limpar parede... e você acha que era só a parte de dentro do casa? Ah querido, que esperança! NÃO! Eu tive que esfregar as paredes de dentro e as de fora da casa! Você só tem a exata dimensão do imóvel em que mora quando é obrigado a esfregar cada centímetro de cada parede, e é aí que você se da conta de que ao invés de morar numa casinha, você, na realidade, habita o Palácio de Versalhes com todos os seus cômodos a serem esfregados.


Finalmente eu acabei! Eu tinha uma casa nova! A velha foi embora! Só tinha que arrumar a mudança! Fui animada para minha casa nova, arrumei tudo o que havia para ser arrumado incansavelmente e estava tudo em ordem! Que beleza! Vou tomar um bom banho! Tiro a roupa, pego as coisas, ligo o chuveiro, entro embaixo da água e o desgraçado queima! Poucas coisas são tão insuportáveis quanto aquela água gelada descendo pelas suas costas que há poucos minutos estavam quentinhas! Claro que eu estava com o cabelo cheio de shampoo, óbvio que eu teria que terminar aquele banho na raça! Acabei, e fui dormir!


Pela manhã eu acordo e vou colocar roupa para lavar. Eis que entro na lavanderia e uma viúva negra esta embaixo do tanque. Sem pânico! Podia ser pior, podia ser uma barata! Matei a aranha e peguei minhas tartarugas que estava lá e passei para a frente da kit com a piscina delas para que elas pudessem dar aquela relaxada.


Peguei o carro, fui ao mercado comprar alguma coisa para comer e quando eu volto, cadê a piscina ¬¬? É sério que alguém se deu ao trabalho de roubar uma piscina de plástico onde habitavam duas tartarugas? A desgraçada da pessoa ainda jogou toda a água na entrada da minha casa e molhou toda a minha cozinha. O único pensamento que passava pela minha cabeça era o desejo de o porco tomar banho na piscina de boca aberta e pegar salmonela! A pessoa pelo menos teve o bom senso de deixar as tartarugas...




Bom, a única coisa que me restava era pegar meu cachorro, meu gato, minhas tartarugas, minhas malas e voltar pra São Paulo para as férias de 2 semanas que antecediam os estágios de 5° ano com toda a minha alegria de viver e com a certeza de que se a casa não era amaldiçoada, a maldição era eu!



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