Esse é um breve relato sobre o dia
em que eu quase vi a morte e seria uma morte digna de piadas eternas...
Poucas coisas na vida são tão
libertadoras quanto poder chegar em casa, tirar a roupa e tomar um bom banho. E
não precisa ser depois de um looongo dia de trabalho, pode ser depois de uma
ida ao mercado, ao shopping, ao correio, qualquer lugar que te faça sair de
casa, o importante e chegar em casa e tirar a maldita roupa!
Ao longo dos anos, adquiri o habito
de andar sem roupa em casa e não havia nenhum problema quando só haviam
mulheres na casa, mas como o hábito faz o monge... é realmente incômodo ter que
vestir roupas, elas te apertam, te esquentam, e irritam. Eu odeio roupas.
Obviamente que não sou uma daquelas pessoas naturalistas, mesmo por que
acredito que não devo causar horror à população no geral, mas dentro de casa
tudo é permitido.
Quando me mudei para Botucatu para
fazer faculdade as coisas não eram tão permitidas assim. Quando você mora com
outras pessoas não pode simplesmente andar pelada dentro de casa... existem
regras! Morávamos em 3 meninas na casa e a regra era a seguinte: se você quer
sair pelado pela casa, beleza, só precisa dizer às outras: "fecha a porta que eu
vou correr pelada" e cada uma entrava para seu próprio quarto sem nenhum
problema, essa é uma das maravilhas de se conviver com pessoas civilizadas.
Mas os finais de semana eram
realmente libertadores! Chegava da faculdade na sexta-feira à noite, já tirando
a roupa no quintal e só voltava a colocar no domingo quando as meninas iam
chegar. E então Murphy resolveu que eu estava muito satisfeita e livre demais e
achou por bem colocar um fim à essa farra do balanga teta...
O dia era domingo... e eu estava
sozinha em casa. Se você já morou em uma república sabe o significado da
palavra “gambiarra”. Pois havia uma bem grande no meu quarto. Só tinha uma
tomada, então eu puxava uma extensão com um benjamin ligado no outro de forma
que eu conseguisse ligar a televisão, o dvd, o abajur, o ventilador, o
carregador do celular, o computador e tudo que houvesse no quarto, e essa
extensão passava embaixo da minha cama.
Domingo
pra mim era dia de faxina, as meninas só chegavam de noite então eu podia
vadiar o sábado todo, no domingo eu fazia a faxina no comecinho da tarde e
podia descansar o resto do dia. Esse dia estava particularmente calor então,
depois da faxina, fui tomar um banho frio para refrescar, obviamente não
coloquei roupa após o banho e fui deitar um pouco na frente do ventilador pra
acabar com o calor de vez... mas então o ventilador não funcionou por que a
gambiarra dos fios era um pouco instável...
Eu
havia acabado de passar pano no meu quarto e ainda estava molhado, mas como eu
ia entrar correndo e pular na cama não havia problemas, ele ia secando aos poucos
enquanto eu dormia, mas havia o maldito ventilador. Sou uma pessoa que tem
alguns hábitos que não podem ser mudados. Eu não consigo entrar no quarto sem
ligar o ventilador... não consigo dormir no silêncio, tem que ter o barulhinho
dele. Derrotada pelo meu TOC, resolvi que teria que arrumar a gambiarra, então,
decidi que iria deitar no chão molhado mesmo e depois tomaria outro banho.
E
foi o que eu fiz... desci da cama, deitei no chão molhado sem roupa e fui mexer
na gambiarra embaixo da cama. Peguei meu corpinho de fada, me arrastei para
debaixo da bendita cama e no momento me que peguei a extensão a desgraçada me
deu um choque que eu fiquei com a mão presa nela...
Alguns
pensamentos passaram pela minha cabeça naquele momento:
1.
Como você é burra!
2.
Kct você é muito imbecil por mexer numa tomada
no chão molhado.
3.
Por que raios você não colocou uma roupa pra
fazer essa merda?
4.
Que cena dantesca deve ser essa eletrocussão de
uma mulher gorda, pelada embaixo da cama no chão molhado.
5.
Imagina se as meninas chegam e me acham morta, pelada embaixo da cama?
6.
Imagina o que vão falar para os meus pais...
7.
Solta o inferno do fio!
E
então eu soltei a extensão e sobrevivi não ao meu intrínseco azar, mas à
burrice congênita!
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