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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A Magia da Primeira Vez


Como diria o velho ditado, para tudo nessa vida tem uma Primeira Vez. Essa, por exemplo, é a primeira vez que escrevo esse ano e, digo mais, é a primeira vez que escrevo sem ter nada de engraçado para contar. Sim, meus amigos, para tudo tem uma primeira vez e calhou de a minha primeira escrita do ano, já no final desse “abençoado” 2016, fugir totalmente do padrão de minhas postagens anteriores. Não escrevo há cerca de um ano, pois durante esse tempo todo não consegui encontrar nenhum fato cômico que pudesse ser compartilhado e, assim, minhas memórias foram se perdendo.

                Pensando cá com meus botões e minha mania de padrões, certezas e coisas que devem ou não ser feitas, durante todo esse tempo tive vontade de escrever, mas por não ter nada de bom para contar, acabei optando por deixar a escrita de lado. Acontece que esse é o meu meio de extravasar minhas emoções, sendo a prosa minha forma de contar “causos”, geralmente cômicos, e a poesia para exprimir toda desgraceira que vive dentro dessa mente perturbada. E então, mesmo fugindo do padrão, vou escrever o que eu quero porque pelo menos nesse ramo da minha vida, quem manda aqui sou eu.

                Assim, sendo a primeira vez em que esse blog verá o que se esconde por trás das risadas causadas pelo meu azar inato, nada melhor do que falar sobre a magia que habita em cada Primeira Vez. E sim, para tudo tem uma Primeira Vez.

                Tenho uma memória prodigiosa capaz de armazenar uma quantidade absurda de informações, úteis ou não, mas, principalmente, de guardar emoções. A emoção de fazer uma coisa pela primeira vez traz uma sensação que ficará para sempre associada àquela atividade cada vez que você a fizer no futuro e daí vem a importância da Primeira Vez. E entre as primeiras vezes existem diferenças. Eu não me lembro da primeira vez em que fui ao cinema, mas me lembro da primeira vez em que aquilo foi uma atividade prazerosa. Lembro-me como se fosse ontem quando fui ao shopping West Plaza com minha mãe e meus irmãos para assistir ao filme do Alladin. Eu já havia ido ao cinema antes, mas essa foi a primeira vez que aquilo fez diferença para mim.


                São pequenas coisas que mudam a nossa vida. A primeira vez em que você viu uma pessoa, a primeira vez em que conversaram, o primeiro beijo que se desdobra em vários primeiros beijos, a primeira vez em que você fez amor, a primeira vez em que você perdeu alguém que amava, a primeira vez em que alguém te decepcionou, a primeira vez em que você começou uma atividade nova, a primeira vez em que você entrou em uma sala de aula, a primeira vez em que você se viu como profissional e se deu conta que, aconteça o que acontecer, a responsabilidade é sua. Lembro-me de um amigo que, ao pegar uma veia pela primeira vez para aferir a glicemia de um paciente, saiu correndo pela clínica comemorando com a seringa na mão e eu quase corro atrás para que o sangue não coagulasse. É a felicidade da conquista, a felicidade de fazer algo novo, algo que para muita gente pode não ter qualquer importância, mas naquele momento, é o mundo para você.

                Lembro-me da primeira vez em que senti felicidade plena. Não sabia que era possível ter uma sensação como aquela e por um motivo tão bobo. Foi a primeira vez em que assisti à Sociedade do Anel no cinema. Fui tomada por uma sensação tão maravilhosa ao finalmente poder ver o mundo que eu apenas imaginava nos livros que o sorriso que tomou conta de mim não podia ser contido ou disfarçado. É quando você fica olhando com cara de bobo, em êxtase quase sem acreditar que aquela sensação é real. E na busca por essa sensação, assisti ao filme mais de 50 vezes nos últimos 15 anos e por mais que me recorde de como me senti na primeira vez, nunca mais me senti da mesma forma ao vê-lo novamente. Depois disso, tive essa sensação de plenitude apenas mais duas vezes: no dia da minha graduação e numa tarde de domingo em boa companhia.



                Não se pode ver pela primeira vez um filme de novo. Não se pode apaixonar-se pela primeira vez por uma mesma pessoa, não se pode ter a mesma sensação que você teve na primeira vez em que foi a um lugar novo, porque ele não é mais novo, você já o conhece. Mas o prazer que é gerado pelas novas experiências nos vicia e é aí que a Magia da Primeira Vez se torna uma maldição.

                Aquela sensação de bem-estar associada a uma atividade, uma pessoa ou uma situação, quando boa, te mantém atado àquilo em busca daquela velha felicidade que vem através das novas experiências. E mesmo quando a situação acaba degringolando, quando aquela pessoa te decepciona, te trai ou te engana, quando aquela atividade deixa de ser prazerosa e passa a ser um problema, a sua mente prega a velha peça de reavivar suas recordações e, se ao pensar naquilo um sorriso lhe vier aos lábios, você sabe que está preso.


                E quando a Primeira Vez é uma situação que lhe traz dor, cada nova experiência semelhante àquela será evitada como uma forma de auto-preservação que não lhe permite viver coisas novas que poderiam ter um final bem diferente daquele que existe na sua mente.

                É difícil distanciar-se de um passado que lhe traz bons sentimentos, principalmente quando o presente não é capaz de lhe fazer sentir nada e a necessidade de sentir, de viver, de ser novamente feliz não lhe permite enxergar o presente como ele é, mas sim como uma sombra do que aquele passado poderia ser caso as coisas tivessem seguido o rumo que você desejava. É difícil deixar a felicidade para trás quando você não tem perspectivas de encontrá-la no futuro e, assim, o presente se perde.





                E nessa roda em busca da felicidade vem a ânsia por novas experiências, a ânsia  de viver  intensamente e de entregar-se ao presente sem se preocupar com o passado ou o futuro, mas lembre-se, você está preso à Magia da Primeira Vez e na busca por essa sensação de felicidade eterna aliada ao fato de saber que o eterno não existe, o medo de decepcionar-se novamente não lhe permite dar as boas vindas às novidades que lhe fariam sentir bem, mas lhe manteriam prisioneira de uma situação na qual o eterno não passa de um instante a se viver e uma vida inteira para recordar.