Como diria o velho ditado, para
tudo nessa vida tem uma Primeira Vez. Essa, por exemplo, é a primeira vez que
escrevo esse ano e, digo mais, é a primeira vez que escrevo sem ter nada de
engraçado para contar. Sim, meus amigos, para tudo tem uma primeira vez e
calhou de a minha primeira escrita do ano, já no final desse “abençoado” 2016,
fugir totalmente do padrão de minhas postagens anteriores. Não escrevo há cerca
de um ano, pois durante esse tempo todo não consegui encontrar nenhum fato
cômico que pudesse ser compartilhado e, assim, minhas memórias foram se
perdendo.
Pensando
cá com meus botões e minha mania de padrões, certezas e coisas que devem ou não
ser feitas, durante todo esse tempo tive vontade de escrever, mas por não ter
nada de bom para contar, acabei optando por deixar a escrita de lado. Acontece
que esse é o meu meio de extravasar minhas emoções, sendo a prosa minha forma
de contar “causos”, geralmente cômicos, e a poesia para exprimir toda
desgraceira que vive dentro dessa mente perturbada. E então, mesmo fugindo do
padrão, vou escrever o que eu quero porque pelo menos nesse ramo da minha vida,
quem manda aqui sou eu.
Assim,
sendo a primeira vez em que esse blog verá o que se esconde por trás das
risadas causadas pelo meu azar inato, nada melhor do que falar sobre a magia que
habita em cada Primeira Vez. E sim, para tudo tem uma Primeira Vez.
Tenho
uma memória prodigiosa capaz de armazenar uma quantidade absurda de
informações, úteis ou não, mas, principalmente, de guardar emoções. A emoção de
fazer uma coisa pela primeira vez traz uma sensação que ficará para sempre
associada àquela atividade cada vez que você a fizer no futuro e daí vem a
importância da Primeira Vez. E entre as primeiras vezes existem diferenças. Eu
não me lembro da primeira vez em que fui ao cinema, mas me lembro da primeira
vez em que aquilo foi uma atividade prazerosa. Lembro-me como se fosse ontem
quando fui ao shopping West Plaza com minha mãe e meus irmãos para assistir ao
filme do Alladin. Eu já havia ido ao cinema antes, mas essa foi a primeira vez
que aquilo fez diferença para mim.
São
pequenas coisas que mudam a nossa vida. A primeira vez em que você viu uma
pessoa, a primeira vez em que conversaram, o primeiro beijo que se desdobra em
vários primeiros beijos, a primeira vez em que você fez amor, a primeira vez em
que você perdeu alguém que amava, a primeira vez em que alguém te decepcionou, a
primeira vez em que você começou uma atividade nova, a primeira vez em que você
entrou em uma sala de aula, a primeira vez em que você se viu como profissional
e se deu conta que, aconteça o que acontecer, a responsabilidade é sua.
Lembro-me de um amigo que, ao pegar uma veia pela primeira vez para aferir a
glicemia de um paciente, saiu correndo pela clínica comemorando com a seringa
na mão e eu quase corro atrás para que o sangue não coagulasse. É a felicidade
da conquista, a felicidade de fazer algo novo, algo que para muita gente pode
não ter qualquer importância, mas naquele momento, é o mundo para você.
Lembro-me
da primeira vez em que senti felicidade plena. Não sabia que era possível ter
uma sensação como aquela e por um motivo tão bobo. Foi a primeira vez em que
assisti à Sociedade do Anel no cinema. Fui tomada por uma sensação tão
maravilhosa ao finalmente poder ver o mundo que eu apenas imaginava nos livros
que o sorriso que tomou conta de mim não podia ser contido ou disfarçado. É
quando você fica olhando com cara de bobo, em êxtase quase sem acreditar que aquela
sensação é real. E na busca por essa sensação, assisti ao filme mais de 50
vezes nos últimos 15 anos e por mais que me recorde de como me senti na
primeira vez, nunca mais me senti da mesma forma ao vê-lo novamente. Depois
disso, tive essa sensação de plenitude apenas mais duas vezes: no dia da minha
graduação e numa tarde de domingo em boa companhia.
Não se
pode ver pela primeira vez um filme de novo. Não se pode apaixonar-se pela
primeira vez por uma mesma pessoa, não se pode ter a mesma sensação que você
teve na primeira vez em que foi a um lugar novo, porque ele não é mais novo,
você já o conhece. Mas o prazer que é gerado pelas novas experiências nos vicia e é aí que a Magia da Primeira Vez se torna uma
maldição.
Aquela sensação
de bem-estar associada a uma atividade, uma pessoa ou uma situação, quando boa,
te mantém atado àquilo em busca daquela velha felicidade que vem através das
novas experiências. E mesmo quando a situação acaba degringolando, quando
aquela pessoa te decepciona, te trai ou te engana, quando aquela atividade
deixa de ser prazerosa e passa a ser um problema, a sua mente prega a velha
peça de reavivar suas recordações e, se ao pensar naquilo um sorriso lhe vier
aos lábios, você sabe que está preso.
E quando
a Primeira Vez é uma situação que lhe traz dor, cada nova experiência
semelhante àquela será evitada como uma forma de auto-preservação que não lhe
permite viver coisas novas que poderiam ter um final bem diferente daquele que
existe na sua mente.
É difícil
distanciar-se de um passado que lhe traz bons sentimentos, principalmente
quando o presente não é capaz de lhe fazer sentir nada e a necessidade de
sentir, de viver, de ser novamente feliz não lhe permite enxergar o presente
como ele é, mas sim como uma sombra do que aquele passado poderia ser caso as
coisas tivessem seguido o rumo que você desejava. É difícil deixar a felicidade
para trás quando você não tem perspectivas de encontrá-la no futuro e, assim, o
presente se perde.
E nessa
roda em busca da felicidade vem a ânsia por novas experiências, a ânsia de viver
intensamente e de entregar-se ao presente sem se preocupar com o passado
ou o futuro, mas lembre-se, você está preso à Magia da Primeira Vez e na busca
por essa sensação de felicidade eterna aliada ao fato de saber que o eterno não
existe, o medo de decepcionar-se novamente não lhe permite dar as boas vindas
às novidades que lhe fariam sentir bem, mas lhe manteriam prisioneira de uma
situação na qual o eterno não passa de um instante a se viver e uma vida inteira
para recordar.