Todo mundo tem aquela pessoa que é
uma inspiração para a vida. Para mim essa pessoa é minha mãe. Ela é a pessoa
mais paciente, bem humorada, intuitiva, otimista, companheira, amiga, sábia, esquecida,
atrapalhada e completamente passada que eu conheço.
Vou lhes contar pequenas passagens
da vida de Dona Colomba para que entendam a origem do mal como: matricular o
filho 2 vezes na mesma série, entrar 5 vezes na mesma rua fazendo voltas
infinitas para encontrar um caminho, pegar um ônibus errado e só perceber que
estava errado quando chega ao ponto final, porque afinal de contas, o caminho
não conta...
Como eu disse, minha mãe é uma
pessoa extremamente otimista, mas acredito que seu otimismo se deva,
principalmente, à sua falta de memória. Ela sempre acha que as coisas vão dar
certo, porque ela nem se lembra quantas vezes elas já deram errado, então no
final, ela está certa, porque uma hora as coisas se ajeitam, e não importa se
passaram 2 dias ou 2 anos...
Existem pequenos detalhes na vida da
Colomba que a fazem um ser único! Tenho algumas histórias para compartilhar
(todas devidamente autorizadas rs) que vão elucidar um pouco mais acerca da
personalidade dessa pessoa tão singular.
Minha mãe é uma pessoa que acredita
em muitas coisas, mas muitas mesmo! Como ela mesma diz, me diga uma coisa que
não existe... Se você não tem um nome para uma coisa que não existe é por que
todas as coisas que têm nomes existem, mesmo que seja na imaginação das pessoas!
Isso inclui o Papai Noel, o Coelho da Páscoa, os duendes, os extraterrestres e
os intraterrenos... isso inclui divindades das mais variadas.
São
tantas influências de tantas culturas diferentes que posso considerá-la como
uma pessoa politeísta apesar de uma rígida formação católica, dona Colomba
adora Ganesha, Shiva, os Elementais da Floresta, a Grande Deusa, Buda, Sai
Baba, bate cabeça pra Preto Velho, Exu,
tem sua Cigana vermelha, a grande Fraternidade Branca, faz suas aulas de Kaballah, basicamente, se
houver algo para acreditar, ela estará la com sua fé! Mas a grande paixão da
minha bichinha sempre foi o Mestre Paramahansa Yogananda. Ah, Yogananda!
Nos
idos dos anos 90, Colomba descobriu uma comunidade que se propunha a disseminar
pelo Ocidente os ensinamentos do Mestre e rapidamente ficou fascinada com a
possibilidade de fazer parte da mesma. Naquela época não havia internet, e as
coisas andavam num ritmo mais lento. Saberá Jesus como a informação chegou até
ela, mas chegou, e para receber os ensinamentos, deveria enviar uma carta para
a sede da Organização que ficava nos Estados Unidos.
Pois
assim seria! Ela escreveu sua carta com todas as perguntas acerca dos
procedimentos para se filiar, as dúvidas mais profundas do seu ser, colocou no
correio e foi para casa ansiosa aguardando a resposta...
No
dia seguinte, que maravilhosa surpresa! Uma carta havia chegado! E vinha dos
Estados Unidos!!! Mas que correio mais eficiente esse, só pode ser coisa de
americano... Um pouco trêmula devido à ansiedade de receber a tão esperada resposta,
Colomba abriu o envelope com tanta pressa que não reparou que a letra no
envelope, vejam bem, era sua... Sim meus amigos, era a mesma carta, porque a
bichinha simplesmente trocou o remetente pelo destinatário e enviou uma carta
para si mesma!
Todos
estamos sujeitos a cometer esse tipo de erro, mas o que mais me impressiona
nesse caso, é o fato de ela não reconhecer a própria carta que foi escrita no
dia anterior e ainda se decepcionar pela falta de resposta às suas dúvidas.
Colomba
é o tipo de pessoa que te conta uma história que você acabou de contar pra ela
dizendo que fulano disse que aquilo aconteceu, ou como se ela tivesse lido ou
escutado em algum lugar com um entusiasmo de quem conta a maior novidade do
mundo.
Outro
clássico proveniente da total falta de memória da bichinha ocorreu no final da
década de 80 com uma ida ao supermercado... vocês sabem como é confuso
estacionar o carro em mercados e shoppings. No shopping ainda tem a numeração,
os pisos, as letras, todo aquele inferno para que você possa se lembrar de onde
deixou o carro, mas no mercado não... você para seu carro e que o Senhor guie
os seus passos para encontrá-lo novamente... acredito que Deus devia estar
ocupado naquele dia e não iluminou aquela mente...
Colomba
foi ao mercado e fez suas compras... naquela época tínhamos um Karmann ghia
conversível vermelho charmosíssimo e um tanto diferente para ser perdido...
saindo do mercado, iniciou a busca pelo vermelhinho... mas ele não estava lá!
Não! Ele não estava lá! Alguém roubou o carro!!!
Rapidamente,
Colomba foi procurar o segurança do mercado e informar sobre o ocorrido. Muito
prestativo, o segurança foi procurar o carro com ela e os dois passaram um bom
tempo levando as compras para passear, mas não havia jeito, o carro havia sido
roubado. As horas foram se passando e o mercado acabou fechando... o
estacionamento já estava vazio e nada do Karmann ghia aparecer. Que perda
lastimável! Ela tinha estacionado bem naquele lugar!!!
Após
várias voltas no estacionamento que se mostravam sempre infrutíferas, o
segurança resolveu ir até o outro estacionamento para ver se havia algum sinal
do vermelhinho, mesmo sabendo que ela não havia estacionado ali, só por via das
dúvidas... e quem estava no outro estacionamento do outro lado do mercado???
-
Uai! Menino, como você veio parar aqui? A gente não tinha parado do outro
lado???
A
memória da bichinha é tão prodigiosa que por várias vezes ela tem que voltar ao
mesmo cômodo para fazer a mesma tarefa que ela nem se lembrava que estava
executando. Mas a suprema distração foi alcançada no ano passado, 2014, na
comemoração do Dia das Mães.
O
Dia das Mães é um dia muito especial para nossa família e gostamos de mimar a
bichinha. Nessa ocasião específica, levamos a bichinha para a Novilho de Prata
para jantar. Ah que alegria! Chegamos à churrascaria, descemos do carro, e no
momento que olhamos para a bichinha em todo o seu esplendor de mãe, percebemos
que a doida tinha saído de casa sem a calça...
Ela
colocou a meia calça calçou o sapato e foi embora! E essa não foi a única vez!
Esse episódio já havia acontecido anteriormente quando ela foi trabalhar sem
calça, pegou ônibus e tudo! Se alguém conhece uma pessoa com menos de 90 anos e
não portadora do Mal de Alzheimer que sai sem calça, por favor me apresente,
quem sabe minha bichinha arruma uma amiguinha...
Dinheiro
em casa sempre foi problema, e certa vez fomos participar de um Bazar.
Colocamos todas as coisas no carro animadíssimas com as vendas e lá fomos nós!
Chegando ao lugar do Bazar, tínhamos que descarregar o carro e assim fizemos, ou
faríamos, porque no momento em que descemos do carro para verificar se era
aquele mesmo o lugar, Colomba trancou a chave do carro dentro do carro...
Quando
você está sem dinheiro, tudo é uma merda e tivemos que gastar o pouco que
tínhamos para chamar o chaveiro para abrir a porta para que pudéssemos
trabalhar. Ok, problema resolvido! Vamos arrasar de vender!
Terminado
o Bazar fomos levar as coisas para o carro, enchemos o carro e fomos nos
despedir das pessoas que participaram do Bazar conosco. Ah, que maravilha! Vamos
agora para casa, estamos exaustas! E ahhhh, que surpresa!!! Colomba trancou a
chave dentro do carro DE NOVO!!! Oh Senhor me leve agora!
A bichinha é muito especial para
todos nós, mas acho que é isso que se pode esperar de uma pessoa que tropeça
num Anão no meio da Praça da Sé e ainda briga com o Anão por “estar aí embaixo
atrapalhando as pessoas”.
Acho que essa é a origem da minha
zica, porque o Azar vem dela, é que ela não presta atenção o suficiente, e ele,
perdendo a paciência, pula na minha vida! Te amo, mãe, e obrigada por me
proporcionar experiências únicas!