Total de visualizações de página

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ode a um Amigo



Na expectativa de uma promessa
Nossa história assim começa
- Seu presente mais útil, esse é o critério!
As palavras povoaram minha mente
Sem saber o que pensar, mas simplesmente,
Ansiosa pra acabar com o mistério.

 - O que é? Responda-me de uma vez!
 - O que é? Pare já com a insensatez!
De não falar sobre o presente esperado
 - O que é? Não me deixe no escuro!
- O que é? Ou me diz de uma vez o que procuro
Ou ao inferno para sempre está fadado!

Vão-se os dias, as semanas, vai-se o mês
Já perdendo de vez a lucidez
Em virtude da enorme ansiedade
Tenha foco, criatura!
Concentre-se na aula e na leitura
Cedo ou tarde já acaba essa maldade!

Ai que o Tempo é amigo se veloz
No vazio e no escuro é algoz
Que alquebra pensamento e vontade
Passa o tempo, passa, passa assim ligeiro
Traz pra mim o meu presente verdadeiro
Minha paz abandonada, na verdade.

Finalmente chega o grande, grande Dia!
E em mim já não cabia a alegria
E o alívio em pôr fim ao sofrimento
Meu presente! O que será? Eu quero ver!
E a surpresa tomou conta do meu ser
Que ao vê-lo me fugiu o pensamento...

- É um carro? É meu carro? Diz que sim!
Alegria que invade e não tem fim
 - É seu carro, pode entrar, fique à vontade
Ai que sonho azulzinho e tão lindo
Ah querida, não consegue nem sonhar com que está vindo
É amor, é paixão, felicidade!



Nesse dia eu ganhei um companheiro, sim! Um amigo para todas as horas que me levava aonde eu queria!!! Meu querido Escort Azul, meu querido Josys (sim, esse era o nome dele) passou 5 longos anos ao meu lado dos quais acredito que ¼ do tempo tenhamos passado na oficina, sempre juntos.


Eu estava no quarto ano da faculdade quando ele entrou na minha vida, e como eu já disse, o transporte em Botucatu é simplesmente patético! Eu amava aquele carro com todas as minhas forças! Nada como a liberdade de você poder sentar a sua bunda no carro a qualquer hora do dia ou da noite e não ter que se preocupar com a hora de voltar, se o maldito do ônibus vai estar cheio, se você tem carona para ir pra casa... simplesmente você entra e aproveita.




E dirigir? Eu amo dirigir! As pessoas podem não amar estar comigo dentro do carro, porque eu adoro dirigir sozinha, numa rua deserta e sem idiotas a minha volta! Sim eu sou como o Pateta no trânsito, eu reclamo, eu xingo, eu amaldiçoo, mas tudo dentro da educação e privacidade de meu próprio veículo, porque não tem nada mais deselegante que a pessoa colocar a cabeça para fora da janela e gritar pra outra! Sejamos loucos, mas tenhamos classe!


Os meses foram se passando e eu sempre na companhia do meu amigo, me formei, voltei com meu Josys para casa até que um belo dia logo após nossa mudança de casa, minha mãe e eu estávamos voltando para casa à noite após o trabalho e eis que Satanás se apresentou a nós na forma de uma lombada não sinalizada que foi ultrapassada a toda velocidade...



Sabe aquelas cenas no cinema quando o carro passa voando pelo obstáculo e cai ileso no chão continuando a perseguição? Não é assim que acontece! Você toma um susto desgraçado, bate a cabeça no teto do carro e quando ele bate no chão, você não tem certeza nem se as rodas continuam no lugar... sim elas continuavam no lugar, mas só elas!!!!

Nosso escapamento caiu, o câmbio soltou, a roda entortou e você acha que o Josys nos deixou na mão? Nananinanão! Chegamos em casa! E no dia seguinte, chegamos no mecânico! E aqui se inicia uma história de amor que me rendeu 4 meses de tardes infindáveis sentada dentro do carro com um mecânico que só faltava fazer a dança do acasalamento em volta do carro e uma conta de 10 mil reais num carro que não valia 2...



Agora vou explicitar a vocês tudo o que aprendi sobre carros nesses longos meses: os carros são constituídos de pequenos pedaços do inferno interligados de tal forma que o demônio tem a liberdade de ir e vir em todas as peças e quebrar a que melhor lhe aprouver na hora.


É mais ou menos assim: você está andando feliz com seu carro, então a caixa da direção hidráulica quebra, você vai la e conserta, aí não é bem isso, porque a bomba da direção também está quebrada e você paga para consertar as duas e nenhuma delas é consertada, assim todos os dias em que você vai sair de casa precisa fazer um esforço hercúleo para mover o volante para conseguir chegar ao posto de gasolina e comprar o óleo de direção, e eventualmente, o cabo da direção arrebenta...


Tudo bem, vocês estão indo bem e todos os dias você volta pra casa com seu carro. Então um dia você está andando na Radial Leste, sente um pequeno tranco e eis que suas marchas não trocam mais... Tudo bem, vamos ver o que é! Lá se foi meu coxim de câmbio! Vamos trocar. Você troca ele toda confiante de que o problema foi solucionado, ótimo! Vai pra casa e no dia seguinte está andando toda bonitona e eis que o familiar tranco te pega de novo... e por que? Porque pasmem, o carro tem 2! Aí você tem que trocar o outro! Tudo bem! Você vai ficar bem, Josys!


Então se iniciam os vazamentos. A quantidade de óleo que pode vazar de um carro é mais ou menos a quantidade de água que existe no oceano. E os vazamentos vêm de todos os lugares. Você estaciona o carro, e na hora de sair confere pra ver se todas as suas pocinhas de óleo estão em ordem. Ai de mim se uma delas não estiver vazando o suficiente!


Então você vai resolver esse problema! Por favor, tire o vazamento. Ok. Pra isso precisaremos passar o seu carro pelo moedor e depois remontar cada parte. Combinado! Vamos consertar o carter. Ahhhh, que pena não é só isso, você precisa trocar agora os coxins do motor, porque o seu motor está pulando.. Ahhhh, mas não é só isso, vamos ter que fazer o cabeçote... Ahhh, mas veja bem! Vamos aproveitar e arrumar de novo a direção hidráulica, vamos trocar o painel, vamos arrumar a parte elétrica, você precisa trocar o cebolão, o farol, as velas, os cabos de vela, a bomba d’água e o reservatório da água, por que, nossa, ele acaba de estourar! Você já viu como está velha essa coreia dentada? E o esticador? Vamos trocar também, porque já está ficando perigoso! Seus pneus estão ruins! Vamos trocar também!


Ok, vamos fazer tudo!!!! O carro vai ficar novinho! E assim eu passava minhas tardes! Sentada no carro, conversando com os mecânicos, sendo enganada e perdendo dinheiro! Estávamos evoluindo bem!


Chegou o grande dia! O dia em que veríamos se tudo estava no lugar! O dia da lavagem do motor para comprovar que não haviam mais vazamentos!!!! Ai que emoção! Me dirigi ao lavador de motores até um pouco trêmula após passar por todo esse processo para ver o resultado!!!


 - Pode lavar tudo, moço! Lava dentro, fora, o motor, embaixo, tudo! Tira a zica e leva embora!


E assim se iniciou a lavagem completa do Josys! Que beleza! Ele nunca ficou tão limpinho!!! Ótimo, liga o carro e pode ir embora!


Liguei o carro, engatei a primeira, o carro estava ótimo, desci a calçada para entrar na rua dando seta e, eis que... o carro não tinha freio... Só o freio de mão para parar aquela criatura! Parei o carro, desci e fui la conversar.
- Ah, moça, isso pode acontecer... volta lá no mecânico que ele da uma olhada...

A essa altura do campeonato eu já estava arrancando o pêlos do c* com pinça dente de rato de tanto ódio! Vamos voltar pra merda o mecânico!
- Negão, o carro ta sem freio...
- Oh, Coração, deve ser o hidrovácuo, vamos ver.
Arruma o hidrovacuo, troca o tal do burrinho mestre, troca patins de freio, troca pastilha, troca óleo, troca tuuuudo que for relacionado a essa merda desse freio, mas faz essa bosta funcionar!!!!! E assim foi... e todos os dias eu voltava pra ficar colocando fluido de freio e bomba bomba bomba bomba o kct do pedal...




Desisto! Vou levar meu filho pra morrer em casa! E assim foi! Peguei meu Josys, terminei meu relacionando com o Negão da oficina e fui pra casa!


A vida com o Josys era sempre uma aventura, porque no dia em que você conseguia sair de casa, podia ser que você não conseguisse voltar... E, um dia, após minha mãe ser operada para retirada de cálculo renal, fui buscá-la no hospital e, por volta das 2h da manhã, estávamos chegando em casa quando a embreagem estourou e ficamos na rua...




O Josys era tão malandro que conseguia quebrar sempre em um lugar ajeitadinho onde não atrapalhasse a passagem, ou pertinho de casa, ou em frente ao mecânico... fomos para casa e no dia seguinte o guincho levou ele para Bragança para ser consertado...


Passados 2 meses, fomos buscar o bonito em Bragança na casa do meu irmão! Que emoção! Eu ia rever meu amigo! Entramos no carro, as marchas passavam loucamente e quando estávamos no meio da estrada ele simplesmente perdeu o freio. Quem precisa de freio na estrada? Afinal estamos aqui pra andar ou pra parar? As habilidades “dirigísticas” mitológicas de minha mãe nos levaram sãs e salvas para casa! Ufa! Pelo menos o Josys está em casa!


Os meses se passaram e lá íamos nós duas trabalhar todos os dias sem freio, sem dinheiro, sem documento e com muita fé de que voltaríamos para casa ao final do dia!
Então a saga dos pneus se iniciou. Sabe quando o carro fica completamente torto e não há Cristo que consigo alinhar o desgraçado? Esse era o Josys, parecia aquelas crianças raquíticas de perninhas tortas... Isso nos rendia um pneu por semana. A essa altura do campeonato eu já era praticamente uma borracheira. Já nem prendia muito bem a roda pra não ter que fazer muita força na hora de trocar de novo no dia seguinte.




Houve uma ocasião que acordamos cedo para trabalhar, aquela chuva lazarenta gelada estava caindo e a garagem em casa não é coberta. E lá fomos nós trocar o pneu... Minha mãe segurando o guarda-chuva e eu trocando o pneu... Pega chave de roda, afrouxa os parafusos, coloca o macaco, sobe, sobe, sobe, tira os parafusos, troca o pneu, coloca os parafusos de novo, aperta um pouco, baixa o macaco e eis que: o estepe estava furado... CARALHOOOOOOOOOOOO. A merda do estepe estava mais murcha que o pneu que eu havia tirado! O que fazer? Vamos colocar o pneu velho de novo e torcer pra Nossa Senhora da Borracharia abrir os caminhos até encontrarmos alguma para trocar o maldito! Tudo bem, Josys, nós conseguimos e fomos trabalhar!


A peça mais infame que Josys nos pregou foi uma bela noite de comemoração! Minha avó havia acabado a quimioterapia e a radioterapia e saímos para comemorar! Que delícia! Saímos do trabalho na Vila Mariana às 22h, pegamos a véia, colocamos no carro e fomos comer comida japonesa que ela adora!


Chegamos ao restaurante, o garçon gentilmente nos convidou a nos retirarmos devido ao adiantado da hora. Ok! Vamos a outro lugar... Todo mundo animado, afinal era a vitória da minha veínha! Saímos com o carro, e estávamos subindo a Sena Madureira e, ahhh, o Josys, que maroto... No meio da subida, a roda de trás simplesmente caiu! PUF! Sem quê nem pra quê, a roda soltou! Mas você acha que o Josys parou de andar por causa disso? Jamais!!! Chegamos ao posto de gasolina, encostamos o carro, chamamos o guincho e fomos andando em grande estilo até o Mc Donald’s 24 horas...



Ultrapassamos todas as dificuldades juntos. Josys carregou todas as festas da nossa escola, festas para 150 pessoas e o azulzinho trabalhando loucamente, fez nossa mudança, nos levava pra casa todos os dias (quando chegava). Era um lord. Não tem água? Tudo bem, vou parar aqui e não vou fundir o motor, porque eu sei que você esqueceu e vou te dar outra chance... Ahhh, acabou o óleo??? Tudo bem, eu vou ficar aqui quietinho sem ligar até você perceber o que eu estou querendo... Um menino de ouro!


O bichinho tava tão acabado já que um dia, depois de ter quebrado, meu irmão nos emprestou o carro dele para trabalharmos e, quando paramos no posto, o frentista veio dar os parabéns por finalmente termos trocado de carro...


Mas eventualmente, a “sorte” finalmente se cansou do Josys e um belo dia, voltando do trabalho ele quebrou... Minha mãe me ligou avisando que ele havia quebrado numa esquina de uma praça que era subida e não havia como tirar ele de lá... Tudo bem! Vamos te buscar amanhã, Josys! Descanse essa noite que tudo vai ficar bem!


A agonia da noite foi passando e eu não sabia como poderia buscar meu Josys, não tinha ninguém para ajudar, as pessoas que se propuseram a ajudar, não ajudaram, eu não tinha dinheiro para o guincho e só ia receber na próxima semana, eu simplesmente não sabia o que fazer. Conversei com meu vizinho mecânico que conseguiu um guincho mais barato!!!! Meu Deus! Finalmente um milagre!!!!


Liguei para o guincho para confirmar o preço, falei com meu irmão para ir confirmar o endereço de onde ele estava parado para que o guincho fosse buscá-lo e... ele já havia partido...






Meu querido amigo não estava mais lá e não havia nem uma placa da CET pedindo resgate... ele simplesmente sumiu... E esse foi o fim de meu querido amigo que levou consigo meu GPS, meus óculos de Sol, meus pneus novos trocados naquela semana, um tanque transbordando de gasolina, meu CD da Legião e uma bateria novinha... Vai com Deus, meu querido Josys, e obrigada por todas as nossas aventuras...




sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Mudança





            Eu sou conhecida por ser uma pessoa que odeia mudanças, eu mudo, mas odeio. E não me refiro às grandes transformações. Qualquer alteração no meu cronograma durante o dia já me deixa irritada. Não preciso dizer que mudanças de casa me deixam louca de estresse. 


            Durante os 4 primeiros anos da faculdade morei com amigas, mas no último ano me mudei para uma kit net pois meus amigos voltaram para São Paulo para fazer estágio e eu ia continuar em Botucatu fazendo meus estágios lá no primeiro semestre.


            Eis que se iniciou o inferno: a mudança! Poucas coisas são tão desagradáveis quanto ter que empacotar tudo que você tem para desempacotar em outro lugar e reiniciar o trabalho todo de novo. Essa mudança em particular me foi muito penosa, por que eu estava completamente sozinha!


            Quando você vai se mudar, a primeira coisa que faz é pegar caixas para guardar as coisas certo? Eu também! La fui eu buscar caixas no supermercado. As caixas são entidades mágicas que habitam os supermercados apenas na parte da manhã bem cedinho por que com o passar da manhã, o duende das caixas passa e desaparece com todas e ninguém sabe te informar o que aconteceu!


            Pois eu acordei cedíssimo para pegar a primeira hora do mercado e levar minhas caixas para casa. Entrei no mercado Central do Bairro e pedi as caixas, o moço me indicou onde estavam e lá fui eu. E elas existiam mesmo! Muitas! De todos os tamanhos e formatos! Que alegria! A cobiça tomou conta da minha mente e eu peguei a maior quantidade possível de caixas. Sabe por que as caixas são desmontadas para o transporte? Por que além de ocuparem muito espaço, elas voam com o vento... Eu não sabia.




            Saí feliz da vida com minhas caixas empilhadas e me dirigi ao carro quando de repente um vento vindo diretamente do inferno soprou e minhas preciosas caixas voaram por todos os lados. Eu quero dizer todos os lados mesmo! Havias caixas pela calçada toda e no meio da rua. Sabe aquela cena do Chaves quando ele está pegando as latas vazias para vender para o dono da venda e elas começam a cair por todos os lados? Vos apresento A Chaves.
Eu corria para pegar as caixas e elas se espalhavam mais, caiam, rolavam e voavam pelos ares me fazendo parecer a pessoa mais imbecil do mundo, mas por fim, com a ajuda de 2 carregadores que se apiedaram de minha situação, consegui colocar todas no carro.


Fui para casa com minhas belas caixas, feliz por ter terminado pelo menos aquela tarefa. O carro em questão era emprestado por que meu fiel Escort azul estava quebrado, dessa forma a boa alma que era namorado da minha mãe na época havia me emprestado o carro dele para fazer a mudança.


Fui para a casa velha deixar as caixas e depois, fui para a casa nova para fazer faxina antes da mudança. Que beleza, embiquei na garagem para guardar o carro, cai na vala e furei o pneu... Tuuuudo bem, isso acontece! Vamos trocar o pneu! Peguei a chave de roda, coloquei no parafuso e com todas as forças que habitavam o meu ser eu girei, girei, girei subi na chave, pulei, amaldiçoei todos a minha volta e o parafuso não deu nem uma mísera volta. Ok, vamos precisar de um homem!


Fiquei de tocaia na rua esperando um homem passar e para que eu pudesse fingir estar trocando o pneu, e deu certo! Uma boa alma se ofereceu para trocar o pneu!!! Ótimo, um problema a menos! Vamos à faxina.


No geral as coisas estavam em ordem, mesmo porque é difícil haver muuuuita sujeira numa casa fechada e minúscula, mas eu limpei, limpei tudo direitinho, lavei a casa toda, deixei as janelas abertas pra secar bem e fui pra casa velha arrumar as coisas.


À noite voltei para a kit com o carro lotado de caixas. Comecei a descarregar sem problemas, mas quando entrei no banheiro para colocar uma caixa, 4 baratas apareceram ameaçando minha integridade física e mental. Aquilo estava ficando perigoso, então fechei a porta do banheiro correndo e fui pro quarto. Como não sou boba, fui fechar a porta da varanda pra nenhuma barata entrar e eis que aparecem mais 2 baratas que entraram correndo. Pois elas entraram e eu, na mesma velocidade, saí pela porta da frente e fui embora pra casa velha com as minhas caixas.


Recuperada do susto, juntei toda a minha valentia que se resume a nada, liguei para meu amigo para que ele fosse me ajudar a matar as malditas baratas. Fui à casa desse amigo que foi comigo à kit armado de muito Mortein, sapatos e coragem para matar as baratas e descarregar o carro.


Terminado o serviço sujo, deixei meu querido amigo em sua casa e fui para minha casa velha para poder dormir. E eis que... as chaves da casa velha tinham ficado na kit. Voltei à merda da kit net para procurar as chaves e nada.


Liguei para outro amigo para saber se ele poderia me ajudar a procurar, por que às vezes a pessoa está tão cansada que não consegue achar coisas que estão obviamente na sua frente. Pois ele foi me ajudar, procuramos em todos os lugares e nada das chaves... peguei o carro, fomos à casa do meu amigo matador de baratas para ver se ele tinha alguma ferramenta para que eu pudesse arrombar o portão.


Descendo na rua lateral à Cia dos Espetinhos, há uma ruazinha com uma placa de PARE que em 4 anos de faculdade eu nunca me dei ao trabalho de parar. Estava com meu amigo no carro e ao ver que eu estava passando reto o cruzamento, o mesmo me perguntou por que eu não parava naquela placa, pois poderia ser perigoso, falei que nunca vinha ninguém ali e não me preocupei. Chegamos à casa do matador de baratas, peguei um martelo e voltamos para a minha casa velha. Reviramos o carro todo, e eu resolvi que ia arrombar o portão da garagem mesmo para dormir no carro. Estava chovendo e eu já estava parecendo um escovão sujo e molhado. Eu só queria um banho e cama! Utilizei todos os meus argumentos para convencê-lo de que eu dormiria no carro, ele se foi contrariado diante de toda a minha teimosia, entrei no carro e não deu 15 minutos, volta a criatura com uma amiga em comum para que eu fosse dormir na casa dela.




A essa altura do campeonato eu já estava num estado profundo de birra e insatisfação e tudo que me ofereciam, eu não queria. Eu só queria dormir no meu carro e tremer até de manha para poder chamar o chaveiro. Mas acabei indo dormir na casa de nossa amiga, que eu agradeço muito pela hospitalidade. Cheguei lá, tomei um banho e fiquei rolando na cama. Tenho um sério problema em dormir fora de casa, simplesmente por que eu não durmo e as noites se tornam infinitas, mas com o passar do tempo e com o cansaço acumulado, acabei dormindo.




Às 7h tive uma visão reveladora! Peguei meu super automóvel e voltei à kit com a certeza de que encontraria as chaves dentro da gaveta do armário, e voilá!!! As benditas estavam justamente na gaveta! Voltei à casa velha, abri a porta e fui arrumar as coisas. Esperei um horário de gente decente acordar e voltei à casa do meu amigo para devolver o martelo. Fui descendo a rua normalmente e chegando na placa de PARE me veio a nítida imagem de meu amigo me perguntando por que eu não parava na placa e eu parei... e no exato instante que o carro parou, um caminhão gigantesco desceu o cruzamento correndo.


Sabe aquilo que dizem que no momento em que você acha que vai morrer você vê toda a sua vida passar diante dos seus olhos? Então, comigo não foi assim. O susto foi tão grande que meu cu subiu pras costas a única coisa que eu pensava era em não cagar o carro todo. Eu sobrevivi e o carro permaneceu limpo!




Quando minhas pernas pararam de tremer, continuei dirigindo, deixei as ferramentas na casa do meu amigo e voltei para casa velha para terminar de arrumar as coisas.


Morei durante 3 anos e meio naquela casa, e em todo esse tempo o Box do banheiro não fechava, a descarga era dada com uma chave inglesa e a porta da sala, que antes nem existia, não fechava direito e estava com a maçaneta quebrada. Pois quando deixamos a casa tivemos que consertar tudo isso que nunca funcionou. Passei a tarde inteira com o marido de aluguel para ele arrumar tudo e meu dinheiro que nascia em arvores foi indo embora.


Enquanto isso eu ia limpando a casa, as paredes, as janelas, tudo para chamar a inspeção logo depois da mudança. E a mudança? Pensa numa semana que choveu? Pensa num homem que você contrata e que não aparece 2 dias seguidos por causa da chuva? Agora pensa que você alugou um caminhão aberto para fazer a mudança e todas as suas coisas estavam ali, tomando aquela chuva gostosa pra inchar todos os moveis de madeira de ótima qualidade que você adquiriu durante sua vida de estudante. Uma beleza!




Finalmente o caminhão estava cheio! Peguei o carro e fui guiando ate a kit com o caminhão me seguindo. Chegando lá, desci do carro, indiquei a kit e fiquei observando o caminhão estacionar. O motorista teve a brilhante ideia de parar em cima da calçada por que a vala da guia era muito grande e o caminhão ia ficar muito torto. Então ele manobrou, subiu na calçada e no momento em que o caminhão parou em frente a minha porta, a calçada quebrou e a roda dele ficou presa no buraco...




Sim meus amigos, nesse momento eu já conseguia até visualizar o urubu rei sentado em cima da minha cabeça. A zica se abateu sobre a minha vida de tal forma que todos que estavam à minha volta foram afetados por ela.


Contratei um caminhão para mudança e mais um ajudante. Acontece que eu o ajudante veio a ser o filho do dono do caminhão, um menino de 13 anos e o dono do caminhão ficava de cara fechada para mim para eu ajudar o filho dele a carregar as minhas coisas. Ta certo isso? Você paga pelo serviço, tem que fazer o serviço e ainda se sentir mal por fomentar o trabalho infantil?


Pois eu me mudei! Apesar de todas as intempéries, de todos os contratempos, todo o inferno que se estabeleceu em minha vida, eu me mudei! E agora só faltava a casa velha passar na inspeção... tranquilo né?


Quando você aluga uma casa que não foi pintada, consta no contrato que você não precisa pintar a casa não é? Ledo engano... você acredita nisso por que vive no mundo de Alice e as coisas são lindas.




Realmente eu não tive que pintar a casa, eu simplesmente tive que limpar todas as paredes, eu disse tooooooooooodas, por que não poderia haver uma patinha sequer nelas e eu tinha um gato e um cachorro demoníacos que só faltavam andar no teto...




E lá fui eu lavar quintal, cortar o mato, limpar parede... e você acha que era só a parte de dentro do casa? Ah querido, que esperança! NÃO! Eu tive que esfregar as paredes de dentro e as de fora da casa! Você só tem a exata dimensão do imóvel em que mora quando é obrigado a esfregar cada centímetro de cada parede, e é aí que você se da conta de que ao invés de morar numa casinha, você, na realidade, habita o Palácio de Versalhes com todos os seus cômodos a serem esfregados.


Finalmente eu acabei! Eu tinha uma casa nova! A velha foi embora! Só tinha que arrumar a mudança! Fui animada para minha casa nova, arrumei tudo o que havia para ser arrumado incansavelmente e estava tudo em ordem! Que beleza! Vou tomar um bom banho! Tiro a roupa, pego as coisas, ligo o chuveiro, entro embaixo da água e o desgraçado queima! Poucas coisas são tão insuportáveis quanto aquela água gelada descendo pelas suas costas que há poucos minutos estavam quentinhas! Claro que eu estava com o cabelo cheio de shampoo, óbvio que eu teria que terminar aquele banho na raça! Acabei, e fui dormir!


Pela manhã eu acordo e vou colocar roupa para lavar. Eis que entro na lavanderia e uma viúva negra esta embaixo do tanque. Sem pânico! Podia ser pior, podia ser uma barata! Matei a aranha e peguei minhas tartarugas que estava lá e passei para a frente da kit com a piscina delas para que elas pudessem dar aquela relaxada.


Peguei o carro, fui ao mercado comprar alguma coisa para comer e quando eu volto, cadê a piscina ¬¬? É sério que alguém se deu ao trabalho de roubar uma piscina de plástico onde habitavam duas tartarugas? A desgraçada da pessoa ainda jogou toda a água na entrada da minha casa e molhou toda a minha cozinha. O único pensamento que passava pela minha cabeça era o desejo de o porco tomar banho na piscina de boca aberta e pegar salmonela! A pessoa pelo menos teve o bom senso de deixar as tartarugas...




Bom, a única coisa que me restava era pegar meu cachorro, meu gato, minhas tartarugas, minhas malas e voltar pra São Paulo para as férias de 2 semanas que antecediam os estágios de 5° ano com toda a minha alegria de viver e com a certeza de que se a casa não era amaldiçoada, a maldição era eu!