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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Átila, o Único!





O mês era agosto, o ano 2005, e eu trabalhava na escola de dança. Todos os dias passava em frente a um Pet Shop, entrava para ver os filhotes, e foi então que, em um dado dia, eu vi AQUELE filhote. Era uma coisinha pequena, saltadora, com olhos grandes e carinha de coitado. Havia 4 filhotes na gaiola, mas aquele me chamou a atenção, e todos os dias eu passava para vê-lo. Eu chegava, ele pulava, eu brincava com ele e, quando eu saía, ele ficava chorando. Os filhotes foram diminuindo na gaiola e, no final, apenas aquele pequeno ficou para trás. Um mês se passou e todos os dias eu ia vê-lo, e ele continuava lá, pulando e chorando. Então tive a melhor ideia possível: levar minha mãe para vê-lo. É de conhecimento geral que Dona Colomba não resiste a um neném, seja da espécie que for, e foi dito e feito, apaixonou-se!

- Colomba, posso ficar com ele?
- Pode, mas você não pode comprar, eu não vou comprar e seu pai não vai comprar, mas pode ficar com ele...

Malditas condições! Mas como quem quer dá um jeito, fui falar com meu namorado.

- Momô, (sim, Momô) eu vi um cachorro que eu quero, minha mãe deixou eu ficar com ele, mas não posso comprar.
- Pode ir buscar que eu compro.

FEITO!




No dia seguinte, dia 09/09/2005, fui à loja e pedi ao vendedor.

- Vou levar o pretinho.
- O salsicha?
- É um salsicha?!

Até então eu não tinha nem parado para pensar qual era a raça do cachorro. Nunca achei graça nessa raça, e eu não prestei atenção nas pernas curtas, eu só conseguia ver aqueles olhos grandes e redondos.

-Sim, vou levar o salsicha!

Peguei aquela criatura feliz no colo e fui direto para a escola mostrar para minha mãe. Quando coloquei ele no chão, ele correu, correu, correu desgovernado como se não houvesse amanhã tamanha era sua alegria depois de passar tanto tempo preso em uma gaiola! Foi então que o primeiro desafio se fez presente: Eu não tinha carro e tinha que levar o cachorro para casa. Eu estava na Vila Mariana e morava na Penha, não podia entrar no Metrô e não podia entrar no ônibus com o cachorro. 

Para a minha sorte, eu pegava sempre o mesmo ônibus e conhecia os motoristas da linha. Fui até o terminal e pedi ao Japonês para entrar com o cachorro disfarçado na bolsa. Como tinha fiscal no terminal, ele pediu para que eu esperasse fora do terminal, no próximo ponto, e assim foi feito. Coloquei o pequeno dentro da bolsa, fui até o ponto, entrei no ônibus, passei a catraca e sentei. Era por volta de 17h30... Todos sabem que às 18h o Portal Mágico se abre e todas as criaturas do mundo se materializam dentro dos ônibus. Lá estava eu, em um ônibus lotado, espremida, com um cachorro disfarçado dentro da bolsa. Até ai, tudo desconfortável, mas tudo bem, e então começou a subir o cheiro...

O filho de uma cadela estava soltando muitos, mas muitos gases dentro da minha bolsa, e o fedor começou a se espalhar ao meu redor de tal forma que eu podia até imaginar aquela nuvenzinha verde sobre nós. Todos me olhavam como se eu fosse a criatura mais porca do mundo. Chegou a tal ponto, quando o miserável ultrapassou o limite olfativo tolerável, que eu tive que tirá-lo da bolsa para explicar a todos ao meu redor que não era eu quem estava fedendo, mas sim o cachorro, que devia estar com algum problema intestinal...

Mas eu cheguei! Passei em outro Pet Shop, comprei ração, brinquedos, uma caminha e fomos felizes para casa. Lá ele foi apresentado a todos os moradores, Lilica e Pietra (as tartarugas) e Amon-Ra, o gato amarelo mais safado do mundo.

Os dias foram passando, e eu cada dia mais apaixonada por aquela coisinha linda. Ele comia e trazia o prato vazio para que eu enchesse novamente. Ele colocava a caminha nas costas e andava igual a uma tartaruga pela casa para levar a cama dele aonde eu estivesse, porque além de não ficar sozinho, ele não deitava no chão. 

Foi então que o Senhor Tilas começou a colocar as manguinhas de fora e mostrar a que veio... Eu trabalhava com minha mãe na escola, ele ficava em casa e, quando eu chegava, ficava no meu colo enquanto assistíamos à televisão. Dormia no meu quarto e do meu irmão em sua própria cama, mas aos poucos foi subindo de vida e começando a subir na cama do meu irmão, que deixava com a desculpa de que o cachorro que tinha subido sozinho enquanto ele dormia... Esse amor entre eles durou o tempo suficiente para que o Átila mijasse meu irmão todo enquanto dormia, sendo rebaixado novamente à sua cama.




É sabido que, dentro das minhas inúmeras manias, dormir com o ventilador ligado é a principal. É impossível dormir no silêncio, e como dormíamos os dois no quarto, meu irmão já estava acostumado. É também de conhecimento geral que os Dachshunds têm um frio sobrenatural. Pode estar 45º C que eles estarão enfiados embaixo das cobertas, e o Tilas não era diferente. Aquilo estava se tornando um problema para ele com aquele vento todo dentro do quarto. E como problemas existem para ser resolvidos, iniciou-se a guerra do vento: eu ligava o ventilador, deitava e ia dormir, o Átila levantava, puxava o ventilador da tomada e ia dormir. Eu acordava com o silêncio, levantava e ligava o ventilador, e assim passávamos as noites até que as puxadas ficaram mais violentas e ele destruiu o fio do ventilador. Comprei outro, coloquei no alto e ele não pode mais desligar.

CAROL 1 X ÁTILA 0

Iniciou-se então o tempo da destruição. Devo admitir que essa fase nunca passou. As pessoas sempre têm a esperança de que, quando o cachorro for adulto, ele vai parar de estragar as coisas em casa. Em sua grande maioria isso é verdade, mas não com o Tilas. Ele sempre vinha me receber na porta quando eu chegava do trabalho, e quando ele não estava lá me esperando, eu já sabia que alguma merda ele havia feito. No geral era o lixo. Como gostava de um lixo aquele cachorro! E você podia colocar onde fosse, na altura que fosse que ele conseguia pegar o lixo e espalhar por todos os lugares. E as coisas deliciosas que ele encontrava no lixo? Feijão azedo, bolo estragado, arroz mofado, tudo! Eram muitas maravilhas que poderiam ser consumidas sem nunca, veja bem, NUNCA ter um vômito ou uma diarreia durante toda a sua vida! Eu considero isso um super poder! Era um cachorro magro, por incrível que pareça, e quando vinha com o corpo parecendo uma peça de mortadela, eu já sabia que alguma coisa bem grande ele havia comido.




Houve alguns episódios relacionados à capacidade estomacal e resistência aos perigos da vida, nos quais ele pode comer absolutamente tudo o que queria, que não podem ser esquecidos. Uma vez ele estava em Assis com minha irmã, e meu pai foi visitá-la. Ela prontamente preparou um strogonoff para receber a visita. Minha irmã estava na cozinh, e meu pai na sala conversando com a colega dela. O almoço estava pronto, e ela foi chamá-los para almoçar. Poucos minutos se passaram e, quando voltaram à cozinha, lá estava o Tilas em cima do fogão ligado, com a cabeça dentro da panela comendo todo o almoço! Sim! Um cachorro de 5 kg, de cerca de 20 cm de altura, subiu sozinho no fogão para roubar o almoço fumegante. E ai de quem se metesse entre ele e sua presa. Rosnava! Quando caía alguma coisa quente no chão e ele corria para comer, você ia tirar dele pra não se queimar, ele chorava, porque estava queimando a boca, e rosnava para que ninguém tirasse a comida dele. Se você insistisse, ele mordia.

Durante a faculdade eu fazia trufas para vender e me manter. Em uma ocasião de pobreza (elas não eram muito raras na minha parca vida de estudante) eu comprei o chocolate, deixei em cima da bancada, e fui ao mercado comprar o recheio para fazer as trufas. Era o único dinheiro que eu tinha. Quando voltei para casa com o restante das compras, onde estava o chocolate? Átila tinha pegado 1 kg de chocolate em cima da bancada, arrastado para o quintal, levado para sua casa e comido quase metade da barra! Meu Deus! Chocolate é tóxico para cachorro!!! Não para o Tilas! Nada era tóxico para ele! Não teve nem uma dor de barriga. No final, eu tive que ligar para casa para pedir dinheiro e passar a semana...





No quinto ano da faculdade me mudei para uma kitnet, e Tilas foi comigo. Em uma semana fomos ameaçados pelo vizinho, que era policial, que se eu não desse um jeito naquele  cachorro, ele iria matá-lo... E a denúncia? Faz pra quem? Então ele começou a ir comigo para a faculdade, mas eu estava fazendo estágio e não podia levá-lo todos os dias, pois enquanto eu estava no estágio, ele enlouquecia o hospital inteiro gritando na gaiola. Minha irmã veio buscá-lo para levar para Franca e morar com ela. Foi triste, mas necessário! No final do ano, terminadas as aulas, fiquei em casa esperando a defesa do TCC e a prova de residência, busquei meu baixinho pra ficar comigo, pois agora eu estaria em casa e não haveria problemas. 

Em uma fatídica manhã, um amigo me convidou para assistir à defesa do doutorado dele e eu fui. Tilas não poderia ir... Então tive uma ideia: dei um calmante para ele e saí de casa. Quando cheguei em casa, cerca de 2 horas depois, a cena era a seguinte: um cachorro sonolento abanando o rabo para mim na porta, até aí tudo bem... fui entrando e me deparo com uma lata de óleo usado, que iria para reciclagem, espalhada pelo chão do quarto inteiro, com patas de óleo em toda minha cama e, para esconder a sujeira, ele havia colocado sua cama sobre a poça de óleo. Quando vi aquela cena, virei pra ele e comecei a gritar: Átila! Dentro da sua sonolência em decorrência da medicação, ele havia esquecido que tinha feito merda, e quando ouviu meu tom de voz, se desesperou para fugir, mas tonto, e com o chão melado de óleo, corria no lugar até cair. A única coisa que pude fazer foi rir, dar um banho nele e lavar a casa inteira.

Tilas ia à faculdade comigo. Ele e seu irmão felino foram e voltaram tantas vezes de Botucatu que poderiam ir à pé. Voltávamos todos os finais de semana no primeiro ano. Ele ia comigo para a aula. Foi modelo nas aulas de semiologia, nas aulas de acupuntura, estava constantemente doente e vivia no HV da faculdade, que ele odiava com todas as forças. Tinha problemas de pele que o fizeram usar roupas durante 2 anos para conter a auto mutilação, teve doença do carrapato três vezes, e tive que brigar com a vizinha para que ela cuidasse do quintal dela, pois já havia perdido dois cães para a doença e ainda assim não limpava o quintal, tinha artrite nas mãos,  artrose no quadril e uma alegria de viver infinita.



Ele não podia ficar sozinho. Ele chorava enlouquecidamente. Gritava, destruía tudo em casa. Tilas comeu meus cobertores, meus edredons, meu guarda roupa, a porta do meu quarto, um livro de receitas antiquíssimo da minha mãe, revistas diversas, almofadas, entre outras coisas. Em uma noite, ele teve a capacidade de trancar minha mãe para fora do apartamento, porque fechou um trinco que não funcionava há 10 anos, após passar horas cavando a porta. A bichinha chegou em casa tarde da noite e teve que chamar um chaveiro para serrar o trinco.



Quando nos mudamos para a casa na represa, meu baixinho estava finalmente numa casa em que ele podia correr e brincar. E passada exatamente uma semana que havíamos nos mudado, chegamos em casa à noite, e onde estava meu baixinho que não tinha vindo me receber na porta? Procurei, chamei, gritei e nada dele. Ele havia fugido. Poucas coisas são tão desesperadoras quanto não saber onde está alguém que você ama. Você não sabe se está bem, se está vivo, se está com fome, frio...  Ele ficou uma semana sumido. Não trabalhei essa semana, pois passeava todos os dias na vizinhança perguntando por ele e espalhando cartazes. 

No dia em que ele saiu de casa, foi para a avenida, e uma Kombi quase o atropelou. O moço desceu, perguntou de quem era aquele cachorro, e disse que o levaria para não ser atropelado. Esse moço morava bem longe da minha casa, mas no final de semana a esposa dele foi visitar a tia, que morava na minha vizinhança, e calhou de um cartaz com a foto do Átila estar colado no poste em frente a casa da tia,e por sorte, ela me ligou. Minha mãe foi buscar meu baixinho, que havia passado a semana toda no quintal amarrado sem comer (porque não comia quando estava fora de casa), e tremendo. Meu bichinho nunca passou uma noite no quintal, e nunca ficou em uma coleira. Como disse minha mãe: 

- Fui buscar o Tilas, e cheguei lá, meu filho estava amarrado igual um cachorro no quintal! Ninguém sabia que ele era um menino!




Em 2014 Tilas arrumou um inimigo, Obama, o salsicha do vizinho, e constantemente ia à cerca brigar com ele. Em uma ocasião, caiu pelo buraco da cerca e apanhou feio. Limpei as feridas, dei as medicações, e bola pra frente! Estava comendo, estava brincando, e tudo bem. Então um dia percebi que estava mais tristinho. Levei um tubo para coleta de sangue para casa para ver como estavam as coisas. Levei o sangue e, para minha surpresa, meu bichinho estava vivo só porque não sabia que não tinha sangue o suficiente para isso. Corri para casa, peguei o danado, levei para São Roque, onde eu trabalhava, arrumamos um doador e ao final da noite, ele já estava latindo na porta para quem passasse. Era a doença do carrapato de novo. Tratei a criatura e ele ficou bom.

Em 2015, estava eu deitada tomando sol (sim, de vez em quando eu sou dessas) e o Átila sempre subia em mim para deitar na minha barriga, mas quando foi subir, cambaleou e caiu. Fui pegá-lo, e percebi que  estava com a gengiva branca. Corre de novo pra clínica... mais uma transfusão. Pernilongo (a cachorra da minha irmã) doou seu sangue de atleta nadadora para ajudar o amigo. Ele teve uma melhora considerável e recomecei o tratamento. 

Três dias após a transfusão ele começou a ter dificuldade respiratória. Levei à clínica à noite, e drenamos o abdômen. Adicionei o diurético ao protocolo. No dia 18 de agosto de 2015, tive aula de Teurgia, e como o Tilas tinha que tomar os remédios, deixei ele na clínica e fui para a aula. Assim ele ficaria assistido enquanto eu não estivesse. Tive uma crise de choro durante a aula totalmente sem explicação, e uma angústia que não sabia explicar... Saí da aula com a minha mãe e fui buscar meu baixinho. Chegando lá ele estava roxo. Não estava respirando bem. Corri com ele para o oxigênio, deixei ele lá com meus colegas e fui levar minha mãe em casa para voltar e passar a noite com ele. 

Quando abri a caixa de transporte, que tinha o oxigênio, ele correu com dificuldade e deitou lá dentro. Já estava acostumado a viajar e adorava as caixas de transporte. Quando voltei, meu baixinho estava muito roxo. Fiquei com meu menino das 18 até 23h50, tentando absolutamente tudo o que era possível para que ele tivesse conforto, para que ele ficasse bem, mas ele já não conseguia respirar e me olhava com aqueles olhos grandes e redondos, aqueles olhos pelos quais eu havia me apaixonado há exatos 10 anos, aqueles olhos, que em silêncio, me pediam ajuda, e a única ajuda que eu pude dar, foi colocá-lo para dormir e, assim, ele fez sua última viagem.





Tilas era hipocondríaco, corria pela casa todo feliz quando ouvia a palavra "remédio" e tomava os remédios como se fossem biscoitos. Passeava comigo todas noites em Botucatu. Adorava passear de carro, já sentava no banco do passageiro e ficava esperando para sairmos, chorava quando eu cantava uma música que fiz para ele, fazia fofoca quando meu irmão espirrava nele, ia comigo à sorveteria todas as tardes e ficava sentado comigo no coreto da igreja em Botucatu. Passeávamos no Lageado aos finais de semana, e adorava um carinho na coxinha. Ia comigo para as aulas, ao banco, aos restaurantes, ao trabalho. Foi na minha prova da residência, à minha defesa de monografia, e no final, soltou de onde estava com minha colega e correu para pular no meu colo. Tilas foi tirar as fotos para o album da turma, foi à minha formatura. Adorava vestir qualquer roupinha, mas era apaixonado por sua roupa de Papai Noel (era o Papai Noílas), ia trabalhar comigo na escola e foi à todas as festas da escola... Tilas era chato, ranzinza, destruidor, escandaloso, carente, chorão, doente, mas era, acima de tudo, meu amigo, e durante muito tempo, ele e o Amon foram meus únicos amigos.





Ele morou em vários lugares. Na apartamento da Penha, em Assis, enquanto minha irmã fazia faculdade, mudou-se para Botucatu comigo durante a minha faculdade, morou com minha irmã em Franca enquanto ela fazia outra faculdade e voltou comigo para morar em Botucatu novamente, depois voltou para a Penha, e finalmente,  mudou-se conosco para nossa casa na Represa, onde está enterrado ao lado do seu irmão inseparável, Amon-Rá, embaixo do meu tronco preferido no quintal, onde eu me sento para ver o pôr do Sol.



As lembranças mantém a saudade e o amor vivos, tornando nossa memória a morada daqueles que partiram. Obrigada por ter me escolhido para dividir sua existência! Coma, brinque, corra e descanse até o dia de nosso reencontro.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A Magia da Primeira Vez


Como diria o velho ditado, para tudo nessa vida tem uma Primeira Vez. Essa, por exemplo, é a primeira vez que escrevo esse ano e, digo mais, é a primeira vez que escrevo sem ter nada de engraçado para contar. Sim, meus amigos, para tudo tem uma primeira vez e calhou de a minha primeira escrita do ano, já no final desse “abençoado” 2016, fugir totalmente do padrão de minhas postagens anteriores. Não escrevo há cerca de um ano, pois durante esse tempo todo não consegui encontrar nenhum fato cômico que pudesse ser compartilhado e, assim, minhas memórias foram se perdendo.

                Pensando cá com meus botões e minha mania de padrões, certezas e coisas que devem ou não ser feitas, durante todo esse tempo tive vontade de escrever, mas por não ter nada de bom para contar, acabei optando por deixar a escrita de lado. Acontece que esse é o meu meio de extravasar minhas emoções, sendo a prosa minha forma de contar “causos”, geralmente cômicos, e a poesia para exprimir toda desgraceira que vive dentro dessa mente perturbada. E então, mesmo fugindo do padrão, vou escrever o que eu quero porque pelo menos nesse ramo da minha vida, quem manda aqui sou eu.

                Assim, sendo a primeira vez em que esse blog verá o que se esconde por trás das risadas causadas pelo meu azar inato, nada melhor do que falar sobre a magia que habita em cada Primeira Vez. E sim, para tudo tem uma Primeira Vez.

                Tenho uma memória prodigiosa capaz de armazenar uma quantidade absurda de informações, úteis ou não, mas, principalmente, de guardar emoções. A emoção de fazer uma coisa pela primeira vez traz uma sensação que ficará para sempre associada àquela atividade cada vez que você a fizer no futuro e daí vem a importância da Primeira Vez. E entre as primeiras vezes existem diferenças. Eu não me lembro da primeira vez em que fui ao cinema, mas me lembro da primeira vez em que aquilo foi uma atividade prazerosa. Lembro-me como se fosse ontem quando fui ao shopping West Plaza com minha mãe e meus irmãos para assistir ao filme do Alladin. Eu já havia ido ao cinema antes, mas essa foi a primeira vez que aquilo fez diferença para mim.


                São pequenas coisas que mudam a nossa vida. A primeira vez em que você viu uma pessoa, a primeira vez em que conversaram, o primeiro beijo que se desdobra em vários primeiros beijos, a primeira vez em que você fez amor, a primeira vez em que você perdeu alguém que amava, a primeira vez em que alguém te decepcionou, a primeira vez em que você começou uma atividade nova, a primeira vez em que você entrou em uma sala de aula, a primeira vez em que você se viu como profissional e se deu conta que, aconteça o que acontecer, a responsabilidade é sua. Lembro-me de um amigo que, ao pegar uma veia pela primeira vez para aferir a glicemia de um paciente, saiu correndo pela clínica comemorando com a seringa na mão e eu quase corro atrás para que o sangue não coagulasse. É a felicidade da conquista, a felicidade de fazer algo novo, algo que para muita gente pode não ter qualquer importância, mas naquele momento, é o mundo para você.

                Lembro-me da primeira vez em que senti felicidade plena. Não sabia que era possível ter uma sensação como aquela e por um motivo tão bobo. Foi a primeira vez em que assisti à Sociedade do Anel no cinema. Fui tomada por uma sensação tão maravilhosa ao finalmente poder ver o mundo que eu apenas imaginava nos livros que o sorriso que tomou conta de mim não podia ser contido ou disfarçado. É quando você fica olhando com cara de bobo, em êxtase quase sem acreditar que aquela sensação é real. E na busca por essa sensação, assisti ao filme mais de 50 vezes nos últimos 15 anos e por mais que me recorde de como me senti na primeira vez, nunca mais me senti da mesma forma ao vê-lo novamente. Depois disso, tive essa sensação de plenitude apenas mais duas vezes: no dia da minha graduação e numa tarde de domingo em boa companhia.



                Não se pode ver pela primeira vez um filme de novo. Não se pode apaixonar-se pela primeira vez por uma mesma pessoa, não se pode ter a mesma sensação que você teve na primeira vez em que foi a um lugar novo, porque ele não é mais novo, você já o conhece. Mas o prazer que é gerado pelas novas experiências nos vicia e é aí que a Magia da Primeira Vez se torna uma maldição.

                Aquela sensação de bem-estar associada a uma atividade, uma pessoa ou uma situação, quando boa, te mantém atado àquilo em busca daquela velha felicidade que vem através das novas experiências. E mesmo quando a situação acaba degringolando, quando aquela pessoa te decepciona, te trai ou te engana, quando aquela atividade deixa de ser prazerosa e passa a ser um problema, a sua mente prega a velha peça de reavivar suas recordações e, se ao pensar naquilo um sorriso lhe vier aos lábios, você sabe que está preso.


                E quando a Primeira Vez é uma situação que lhe traz dor, cada nova experiência semelhante àquela será evitada como uma forma de auto-preservação que não lhe permite viver coisas novas que poderiam ter um final bem diferente daquele que existe na sua mente.

                É difícil distanciar-se de um passado que lhe traz bons sentimentos, principalmente quando o presente não é capaz de lhe fazer sentir nada e a necessidade de sentir, de viver, de ser novamente feliz não lhe permite enxergar o presente como ele é, mas sim como uma sombra do que aquele passado poderia ser caso as coisas tivessem seguido o rumo que você desejava. É difícil deixar a felicidade para trás quando você não tem perspectivas de encontrá-la no futuro e, assim, o presente se perde.





                E nessa roda em busca da felicidade vem a ânsia por novas experiências, a ânsia  de viver  intensamente e de entregar-se ao presente sem se preocupar com o passado ou o futuro, mas lembre-se, você está preso à Magia da Primeira Vez e na busca por essa sensação de felicidade eterna aliada ao fato de saber que o eterno não existe, o medo de decepcionar-se novamente não lhe permite dar as boas vindas às novidades que lhe fariam sentir bem, mas lhe manteriam prisioneira de uma situação na qual o eterno não passa de um instante a se viver e uma vida inteira para recordar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

HIGHWAY TO HELL









Ah que ansiedade! Após 4 longos anos estudando loucamente finalmente havia chegado ao quinto ano da faculdade, o ano dos estágios! É um período muito importante no qual você aprende na prática tudo aquilo que viu na teoria na universidade. O ano era 2011 e aqui nossa história começa...


 Eu tinha tudo esquematizado: são 9 meses de estagio com um mês de férias, duas apresentações de estágio com discussão de casos clínicos, defesa do TCC e a famigerada Prova dos Cinco anos. Foi um ano bem intenso.


Devido a um projeto que estava sendo desenvolvido na faculdade, não pude sair no primeiro semestre então passei esses meses dentro da UNESP fazendo estágios nos mais diversos setores e eu me sentia em casa!



No mês de junho fiz meu estágio no meu setor preferido, Clínica Médica da Pequenos Animais, conheci pessoas incríveis e convivi mais de perto com outras, já queridas que conhecia devido ao Rodízio do quarto ano e em julho seria o mês das férias, mas devido à falta de estagiários na faculdade e ao grande movimento na Clínica, acabei ficando na emergência para aprender e ajudar os residentes na rotina. Ok, mudança de planos: 10 meses de estágio e sem férias.



Ah! Finalmente estava pronta para sair da UNESP e conhecer outros locais, e o mês de agosto foi o primeiro em que saí de Botucatu rumo ao mundo e fui à UFMG, em Belo Horizonte, para o Departamento de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais.
Boa parte de minha família é de Belo Horizonte, então tudo já estava pronto para minha chegada, saí de Botucatu, peguei minha avó em São Paulo e fui com um colega de turma, que até então era meu amigo desde o primeiro ano e após a viagem cortamos relações, tamanha maravilha de passeio...


Tenho 3 tias avós em Minas e primeiro fui para a casa de minha tia avó em Betim que fica na região metropolitana de BH. Passamos o domingo tranquilo no sítio e segunda-feira começaria o estágio...
Minha tia avó, toda prestativa, acordou cedo conosco e foi nos guiando até a faculdade, à 34 km dali, em Belo Horizonte, na Pampulha e quando nos deixou na faculdade ela já havia solucionado o problema da volta:


- Carol, pra voltar é só fazer o caminho contrário!
- Oi? Como assim é só fazer o caminho contrário?
- Você não prestou atenção na ida? Então a volta é igual só que ao contrário.


Ah sim! Agora que foi explicado ficou fácil...




Preferi passar o dia aproveitando as novidades da faculdade do que me preocupando com a volta, mas o relógio bateu às 18h e meu destino estava selado: eu tinha que voltar para casa...


Peguei minha coragem, minha invejável memória de portador do mal de Alzheimer, meu parceiro de aventuras, entramos no carro e fomos para a estrada.


Agora fica aqui minha homenagem ao povo mineiro. São pessoas que sempre têm as melhores intenções e uma disposição incrível para ajudar aos outros, seja qual for o problema que estiver enfrentando, o mineiro tem a solução. Eles sempre podem dar um palpite e sabem todos os caminhos... ou assim eu pensava...


Começamos nossa jornada não sem antes ligar para a minha avó e pedir as coordenadas que foram passadas prontamente e caímos na estrada.


Não posso dar muitos detalhes quanto ao trajeto utilizado, porque até hoje eu não entendi o que aconteceu, mas após seguir centenas de placas que indicavam locais que não estavam no sentido que a placa indicava, finalmente encontramos a estrada para Betim.


Achamos melhor parar em intervalos regulares para pedir informações sobre o caminho e cada pessoa que passou por nosso caminho nos recebeu com um sorriso no rosto e um palpite totalmente descabido.


Certa hora eu já não sabia se estava indo para Betim ou voltando para Belo Horizonte, então parei no posto de gasolina, que é o local onde, no tempo livre, os frentistas ficam brincando com o Google Maps decorando todas as ruas e caminhos, pelo menos em São Paulo é assim, e pedi informação:

- Moço, eu preciso ir para Betim, pra que lado eu vou?
- Pra Betim? Cê ta do lado errado da estrada, menina, segue reto toda vida, ai cê vai vê uma ponte, sobe a ponte, quando descer, em seguida vai ter uma entrada pra subir a outra ponte, ai cê sobe e vai dar do lado certo da estrada aí é só seguir as placas.
- Deixa eu ver se entendi: eu subo a ponte, desço e depois eu subo a ponte de novo?
- Isso mesmo!
- Mas assim não vai dar do mesmo lado que eu estou agora? Porque eu subo a ponte, passo pro outro lado, se eu subir de novo, eu volto pra esse lado, não é isso?
Ele me olhou com aquela típica cara de: se você sabe o caminho por que veio me perguntar? E muito simpático me respondeu:
- Não, menina, você vai direto pra Betim assim.
- Muito obrigada então...




Dentro da minha imbecilidade, eu segui as precisas informações do frentista, subi a ponte, desci a ponte, peguei a entrada, subi a ponte, desci a ponte e me vi passando novamente no posto de gasolina...


Sabe aquela vontade de sair gritando? Como diz a minha avó, nesse momento eu queria fazer uma birra de calcinha que consiste em ir para o meio da rua, arrancar a calcinha, jogar no chão, pular em cima e gritar igual uma louca! Então liguei pra minha avó de novo:
- Vó, to perdida!


E o que eu ouvi do outro lado da linha foi o som da derrota, só aquela sonora gargalhada, que faz com que o sangue da pessoa perdida ferva instantaneamente e fiquei em silêncio esperando as coordenadas...
- Vó, to perdida mesmo...
- Onde você está, minha gata?
- Vó, quando eu estou perdida eu estou perdida mesmo...
- Mas onde você está?
- Eu não sei! Eu to perdida!!!
- Então para em algum lugar e pergunta onde está!
Desliguei o telefone e fui procurar um posto de gasolina.
- Moço, eu preciso ir pra Betim, já rodei 90km e eu não sei pra onde ir! Em que cidade eu estou???
- Você tá em Contagem!
- Que? Mas eu to indo pra Betim ou voltando pra Belo Horizonte.
- Ta indo pra BH.
- Pelo amor de Deus! Você não vai me mandar subir a ponte né?
- Não, menina, pega o retorno e depois segue em frente toda vida.


Mineiro tem essa mania de “toda a vida”... se bem que não faz muita diferença das outras informações, porque se eles falarem que “é logo ali”, você também vai andar toda a vida... agradeci e liguei pra minha avó de novo.
- Meu Rato, eu estou em Contagem...
- Mas em que lugar?
- Essa é toda informação que eu tenho, to no posto de gasolina, no sentido de BH, vou pegar o retorno e seguir toda a vida...
- Isso, filha, então faz o retorno e vem pra casa.


Agora sim eu fiquei mais tranquila! É só ir pra casa? Ufa! Tivessem me dito isso antes eu tinha economizado 90 km!


As horas foram se passando e eu realmente cheguei a pensar que iria andar “toda a vida”, então reconheci um boteco no centro de Betim e liguei pra minha avó de novo.


- Vó, to no boteco X (não me lembro o nome) perto do trilho do trem, você pode mandar uma equipe de busca, um helicóptero, qualquer coisa pra vir me buscar?
- Fica aí que sua prima vai te buscar.




E então, depois de quase 6 horas e mais de 100km para percorrer um trajeto de 34km, minha prima foi me buscar e eu cheguei em casa. Que alegria! Esse foi o primeiro dia de estágio e na manhã seguinte começaria tudo de novo...


O dia clareou e minha avó teve a brilhante ideia de ir conosco para a faculdade em seguida pegaria um ônibus, iria para a casa de minha outra tia avó, que fica no centro de BH, e depois no horário de ir embora, a boa alma pegaria outro ônibus e iria nos buscar na faculdade para nos mostrar o caminho. Que mulher santa!


E assim foi feito... 18h pegamos o carro e minha avó estava no ponto de ônibus esperando! Então fomos para casa... ela foi nos indicando o caminho, quando não mais que de repente o trânsito parou completamente! Havia uma manifestação de professores no centro da cidade e as ruas estavam interditadas e, então, nós nos perdemos novamente...




Dessa vez foi mais tranquilo, pois minha avó estava conosco e indicava como chegar. No dia seguinte, minha avó foi conosco de novo para a faculdade e na volta lá estava ela no ponto de ônibus esperando pra nos buscar. Dessa vez nada poderia dar errado! Aí ela resolveu passar no mercado... mas o mercado não ficava no caminho de casa, então fizemos um desvio, fomos ao mercado e depois para casa...


No terceiro dia, novamente, fomos os três para a faculdade e de tarde a coitada estava no ponto de ônibus esperando, pegamos minha veínha, fomos para casa e minha avó confundiu o caminho e nos perdemos...


Sabe quando parece que você está aprisionado dentro de uma piada? Ou naqueles filmes em que todos os dias você acorda e está preso na mesma situação? Então, eu estava! Meu destino era me perder em BH! Já estava cansada de fazer minha avó ir comigo à faculdade e decidi que iriamos sozinhos!


Ah, que iniciativa idiota! De fato, chegamos à faculdade, mas na volta... me deu um vazio imenso passar em frente ao ponto de ônibus e não ver minha Guia turística preferida, mas aguentei firme e segui em frente com a cara, a coragem, a burrice e para variar um pouco, nos perdemos...




- Vó, você pode não acreditar, mas nós estamos perdidos...
- Onde você está?
- Não sei, vó, um moço nos indicou o caminho e agora estamos numa tal de Avenida do Contorno...
Sonora gargalhada...
- Sai daí, menina, essa avenida tem esse nome porque contorna a cidade inteira!
- Puta que pariu! Pra onde eu vou?
- Faz assim, tem algum táxi por aí? Paga pro taxista e segue ele até em casa.
- Ok.


E então, depois de duas horas rodando pela cidade, seguimos o taxista e chegamos em casa...




No dia seguinte, minha avó resolveu que iria nos buscar na faculdade, então, às 18h, lá estava minha Ratinha no ponto de ônibus e dessa vez, fomos para casa sem grandes percalços!


Os dias se passavam sem grandes problemas e então tínhamos um curso de final de semana em Botucatu... Ok! Peguei minhas malas, meu colega, minha avó, o carro, fomos para São Paulo ver minha mãe e depois iríamos para Botucatu... horas e horas e horas dirigindo, chegamos em São Paulo, fomos até a Vila Mariana ver minha mãe e então decidimos trocar de carro por que o carro que eu estava, estava esquentando e ia para o mecânico e peguei meu querido Josys para ir para Botucatu! Que saudade do meu Josys!!!


Entramos no Josys, caímos no buraco e furamos o pneu... tudo bem! Fomos trocar o pneu, mas o macaco estava com problema, saiu do lugar, amassou o carro, ficou preso embaixo do danado e não levantou nada! E lá fui eu achar alguém pra emprestar um jacaré! Achei uma boa alma, consegui pegar o macaco, trocamos o pneu e entramos novamente no carro...


Então minha avó decidiu que não iria para Botucatu conosco, mas que queria ficar na casa dela... tudo bem! Ela morava no Campo Limpo, ficava uns 19km de onde estávamos. Simples, deixaria minha avó lá, pegaria a Marginal, já cairia na Castelo Branco e iria pra Botucatu.


Fácil né? Só que não! Eu já estava dirigindo desde as 3h da manhã, porque o curso começaria às 18h em Botucatu e, então, São Paulo resolveu mostrar a que veio...


Quatro horas, sim meus amigos, 4 horas para percorrer 19km e minhas pernas já não funcionavam mais! Chegamos à casa da minha avó já eram 20h, eu já havia perdido o curso, a compostura, a vontade de viver... pedimos uma pizza, tomei um banho, peguei o carro e fui para Botucatu para não perder mais um dia!




Tudo correu bem! Na volta peguei minha avó, meu colega, troquei de carro e fomos para BH de novo. Tudo bem tranquilo, de manhã acordei, peguei o carro, fui para a faculdade e eis que o danado ferveu... tudo bem! Vamos esperar ele esfriar, colocar água e ele volta à vida!!! E assim foi feito! Esperamos, colocamos água, ele voltou à vida e fomos para casa.


No dia seguinte, ele estava normal! Ok, sem problemas! Então no final de semana fomos para Betim para descansar. Domingo de noite, estávamos chegando em BH na casa da minha avó e eis que o carro teve uma pane elétrica... Oh, Deus! Me leve agora e evite mais sofrimentos! Eu já não aguentava mais! Eu realmente não quero me alongar muito! Foi um inferno, do começo ao fim! Maldita hora em que eu resolvi colocar os meus pés naquela cidade!!!




     Finalmente chegou o dia de ir embora! Senhor! Eu sobrevivi!!!! Minha avó resolveu ficar em BH e então seríamos apenas meu colega, que depois dessa intensa convivência já me odiava tanto quanto eu odiava ele, e eu.


     Novamente, acordamos às 3h e caímos na estrada. Quando o carro saiu da garagem, meu colega já começou a dormir e eu dirigi por horas no mais profundo silêncio... Por volta das 7h eu já estava morrendo de sono, então resolvi parar o carro em um posto, dormir e um pouco e seguir viagem.


     - Não aguento mais dirigir, to morrendo de sono, vou parar uma horinha e depois nós continuamos.
     E eis que veio a resposta mais imbecil que eu já ouvi:
     - Ah não, se não vai atrasar a viagem, não quero parar agora.
     

     Segurei todo o resto de civilidade que ainda habitava o meu ser, respirei fundo enquanto me sentia Michael Douglas em Um Dia de Fúria, olhei no fundo dos olhos dele e respondi:
     - Se é por isso não tem problema, eu vou parar, você desce, e vai adiantando a viagem, mas vai fazendo sinal de carona pra eu não te perder, porque quando eu acordar, eu te pego na estrada.

      Recebi como resposta uma bufada, um olhar de ódio e um silêncio mortal, parei o carro, fechei os olhos e dormi como um bebê. 




      

      Me senti renovada! Em seguida acordei, peguei a estrada novamente, cheguei em São Paulo, desovei meu ex amigo e fui feliz da vida para casa já morrendo de saudade daquela fumaça preta que enche o pulmão de todo paulistano!